quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Capa do livro.
E a todos aqueles que se interessaram pelo filme (inspirado na história do livro), aí vai o link do blog da produção:
http://www.filmeaheranca.blogspot.com/
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Lustres: assumidamente a minha paixão.

Quando assisto a alguma produção na TV também me encanto com a volta que a câmera dá pelo lustre através da grua que gira em torno dele antes de seguir focando a cena que acontece lá em baixo, em alguma sala ou salão. Em Alma Gêmea e em Chocolate com Pimenta, por exemplo, esse recurso foi utilizado muitas vezes. Como são novelas de época, os lustres,quase sempre eram os “protagonistas” de qualquer cenário. Desde o da loja da fábrica de chocolates (em Chocolate com Pimenta) até a pomposa casa da Ana Francisca (também da mesma novela). Quem não se lembra, por exemplo, da tinta verde que descia do teto de um salão, atravessava o lustre e caia sobre a cabeça da Aninha, sendo humilhada no dia da formatura do colégio em Ventura, cidade criada por Walcyr Carrasco?
Muitos outros objetos cenográficos épicos também me chamam a atenção, mas qualquer lustre me deixa babando de admiração.
Como é um lançamento de livro?

Aqui em Muqui as coisas são ainda mais formais: faz-se, verdadeiramente, uma festa para o lançamento. Mesas, cadeiras, comida e bebida. Claro, no meu caso não ia ser diferente. E, como eu adoro fazer uma festa (na verdade organizar e planejar) não tinha coisa melhor: Sou taxativo nos detalhes, na lista de convidados (sim, haverá lista de convidados, porque, afinal de contas, não vou alimentar 5 centenas de pessoas!), nos próprios convidados, na arrumação, no coquetel, no vinho, em tudo!
Acreditem: o orçamento da festa já superou o orçamento do livro! Um absurdo. Mas eu me dou este direito: é o meu primeiro livro, é o meu primeiro passo e, tudo isso, com 19 anos! Eu mereço. Mereço, também, calar a boca de muita gente que menospreza o trabalho alheio, que alfineta com espinho, que faz as pessoas sangrarem. Quero dizer com todas as letras e para todo mundo ouvir: estou lançando um livro por mérito meu, com dinheiro meu! Me perguntam: não seria muito ridículo e patético dizer isso? Não! Numa cidade onde as coisas acontecem como no feudalismo é importantíssimo que se tenha a noção de que alguns, para crescer, precisam se alimentar de si mesmos, serem seus próprios patrocinadores.
Mas confesso que o mérito não é só meu. Como disse, os orçamentos estão tomando proporções gigantescas e, por isso, precisei de uma ajuda dos meus pais. Eu não conseguiria, porém, pensar em lançamento de livro se não tivesse ganhado um premio num festival de vídeo. O Cel.U.Cine (festival de micrometragens do Rio) foi, sem dúvida, o responsável pelo impulso, foi o premio que chegou e disse: estou aqui para poder realizar um de seus sonhos. Os meus sonhos são muitos: viagens, objetos de consumo. Mas, antes de pensar em qualquer futilidade, pensei na minha carreira. Pensei: vou lançar o meu livro. Depois pensei de novo: Mas qual deles?
Tenho vários livros, histórias que surgiram na pré-adolescência quando eu ficava sozinho no meu quarto, assistindo TV e pensando na vida. Mas, definitivamente, a história mais “madura” que escrevi e que já estava praticamente pronta era “A Herança – a incrível história de Marie”. Um romance que começou tímido em 2008, mas que ganhou proporções atípicas quando virou roteiro de filme. A história amadureceu e se enriqueceu. Estou orgulhoso. Orgulhoso por estar investindo em mim mesmo e, ao mesmo tempo, me sentir realizado com isso. Sinto um tesão absurdo quando penso em lançamento de livro, quando penso em escrever livro, quando penso em escrever história, quando penso em gravar história.
Espero que o lançamento do livro seja um evento em que eu consiga exprimir muito dessa minha vontade de ver as pessoas cada vez mais propositadas em investir em si mesmos, em se transformarem na principal porta de entrada para um futuro cheio de oportunidades.
Premiação Cel.U.Cine


domingo, 19 de dezembro de 2010
Publicar um livro, publicar uma história.

Depois que finalizei a história, ainda este ano (2010) me surpreendi ao ler, pela home page da BBC Brasil, a notícia de uma senhora australiana milionária que deixa de herança para as filhas apenas o equivalente à R$2,50. Dois reais e cinquenta centavos! Houve indignação por parte das filhas que reivindicam a herança e questionam a insanidade da mãe ao escrever o testamento.
Fiquei chocado. A história de “ A Herança – A incrível história de Marie” é basicamente isso! Mas a minha história é original e, embora a sinopse seja quase a mesma (uma mulher que não deixa quase nada à neta), o livro percorre por muitos mistérios e segredos. O livro não fala só da herança, mas usa isso como linha para se contar outras tramas, identificar perguntas e, mais tardes, identificar respostas. O livro, em si, tem como pano de fundo uma rica pintora francesa que, já em fase de vida terminal, deixa para a neta apenas o seu diário e um palacete na América. A milionária escondia de todos a decadência da família. O que o livro procura explorar, porém, é como que uma pessoa (no caso a personagem Marie), sempre acostumada no luxo, consegue sobreviver em meio ao caos de um palacete fúnebre no Brasil. Aí é que começa a trama. O livro inteiro conta a vida de Marie e sua frustração quanto à falência da família. É uma história de neta e avó, uma história de amor. O livro, confesso, traz uma história bucólica. Em certos momentos alguns podem, até , se emocionar, rir e chorar, mas o final, garanto, promete muitas reviravoltas em tudo o que o leitor pensou até então.
Na foto, a britânica milionária da notícia.
Sobre Passione

Agora, já em reta final, o que se vê é uma pressa. Algumas cenas são gravadas com a câmera na mão, no ombro (nada contra, até porque defendo muito este estilo), mas seria mesmo só estilo, ou expressão de correria. Usar esse artifício só agora, no final, deixa claro que não é um recurso recorrente durante toda a trama e que talvez seja, realmente evidência da pressa. Esquecem-se das imagens, da produção bem feita. Início de novela é sempre tão lindo, final é sempre assim, uma correria, imagens feitas com uma pressa absurda. Pressa, eu sei, está presente em todas as cenas. Gravar é algo complicado. Mas, em reta final, uma novela, principalmente como a Passione, está deixando transparecer isso demais. Não sei se é só impressão. Talvez seja. Novelas com imagens belíssimas, é claro, se edificam, se valorizam. Mas o que o público quer, acima de tudo, não é ver os personagens brasileiros viajando Europa a fora para gravar cenas lindas, mas que não envolvem. O público quer conhecer sim outros países, navegar em questionamentos e entender a amálgama brasileira através destas relações entre países e cultura, mas a história deve, acima de tudo, convencer. E, definitivamente, Passione tomou um rumo que nem eu entendi. Algumas cenas sobre os rumos da metalúrgica Gouveia são entendíveis apenas para alguns. É um discurso muito formal, sobre desvio de dinheiro, sobre compra de ações. Muita gente não entende isso. A favelinha continua sendo um portal. E, antes de querer criar novelas fantásticas, que levem para a Tv relações entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos, um autor precisa criar questionamentos dentro do próprio país. A moça de Copacabana e o cara da favela, a socialite decadente e o pobre vencedor, batalhador. Talvez o contrário. O fato é que o público quer ver imagens lindas, mas bem utilizadas, o público quer ver intriga, quer ver barracos e não simplesmente pessoas bem vestidas, personagens engravatados andando nos carros da Kia pelas ruas sempre lindas e limpas da capital paulistana.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Boca no trombone!
Ainda estou as voltas com o lançamento do livro, muita coisa ainda para pensar e planejar, mas sei que vai dar tudo certo.
Abaixo coloquei o meu comentário que, em breve, publicarei no blog do Silva.
"Há muito tempo tenho vontade de postar aqui. Mas tudo é tão corrido que raramente dá tempo. Não ponho a culpa somente no tempo. Mas também na falta do que dizer. Não queria estar aqui, dentro dessa quantidade enorme de comentários pra ser apenas mais um. Sempre leio Aguinaldo porque me identifico muito com seu estilo sarcástico, do seu estilo de crítica ao mundo global, a sociedade. E, vejam bem, não estou conseguindo ser original (já que essa é a minha intenção). Comentando dessa maneira estou sendo apenas mais um: um daqueles que certamente se utilizam desse portal de comentários para se auto-promover e promoverem o próprio Aguinaldo. Acho edificante! Mas definitivamente não gastarei minhas palavras aqui para elogiar uma pessoa que sabe que é adorada por muitos, inclusive por mim. Ele sabe que muitos dos que estão aqui admiram o seu trabalho e que a sua filosofia de vida, as suas críticas, observações e “crônicas” inspiram e estimulam muitas pessoas. Elogiar Aguinaldo é insólito. Quero mesmo é apreciar o seu trabalho. Por isso evito me comprometer aqui em comentários extensivos (embora este já esteja se tornando um comentário prolixo – mas não tem problema estou tirando o atraso, acompanho o blog há muito tempo e chegou a hora de colocar a boca no trombone). Quero muito poder acompanhar além das leituras todos os comentários.
Teria muito pra poder falar de mim, mas vou evitar esse tipo de coisa. Vou revelar apenas que faço Jornalismo numa universidade de Ouro preto, mas que sou do Espírito Santo e que, em breve lançarei um livro (romance) em que o próprio Aguinaldo me influenciou com o seu estilo, o seu estilo de diálogo, de trama. Tenho, como muitos dos que estão aqui, sonhos. Mas não vou, em hipótese alguma, expô-los dessa forma. Muitos dos meus sonhos são segredos e, mesmo se não fossem, por que ficar aqui relatando sonhos? Verdadeiros sonhadores não perdem o precioso tempo escrevendo sobre eles, mas buscando caminhos para alcançar razões e motivos que poderão ou não, fazer o sonho se tornar realidade.
Prefiro, aqui, continuar sendo um admirador “secreto”, um anônimo que acompanha tudo, que lê os comentários, que lê os textos de Aguinaldo Silva, que o acompanha no twitter, no face, mas que em muitos momentos prefere se calar. Resolvi romper com isso. Quero estar cada vez mais próximo das pessoas que comungam comigo as minhas opiniões e o blog do Aguinaldo está ultrapassando os limites da “coluna opinativa” e se tornando um portal valioso para o conhecimento entre pessoas, entre profissionais, entre artistas, entre leigos e interessados.
Aguinaldo é um dos poucos autores que consegue sobreviver na rede. Admiro muito, por exemplo o Walcyr Carrasco, mas lamento o atraso em que se encontra com relação a sua atualização na rede. O que a gente quer (digo “gente” me referindo a pessoas que gostam de saber das curiosidades de produção de uma novela, a criação dos personagens, da trama e, até, das cidades cenografias!) é ver os nossos autores queridos não só na Tv (onde também raramente aparecem), mas na internet, pois este é, definitivamente um lugar livre, infinito! Não queremos perceber as opiniões e a visão dos autores apenas incrustadas e intrínsecas nos diálogos da novela, nas subjetividades da abertura. Queremos eles por eles, mais transparentes, mais gente.
Embora prometa aparecer aqui mais vezes (mais vezes meeesmo, porque quando em comprometo a comentar, comento, e comento de verdade!) vou querer sempre continuar sendo um admirador, um leitor, muito mais do que mais um comentarista. Aliás quem sou eu pra comentar sobre comentários de um autor de novela aclamado? O que prometo, sim, é aparecer aqui para dizer: eu existo! Eu entro no blog, leio, e agora estou postando!
Prefiro continuar sendo um admirador “secreto” que, talvez num futuro próximo, possa encontrar ao acaso com Silva pelos corredores do New York City Center ou pelas ruas de Lisboa, onde planejo, antes do término da faculdade, gravar um documentário sobre Folia de Reis, (representação cultural e artísticas “brasileira” que tem raízes em Portugal).
Embora o meu livro, com previsão de lançamento para fevereiro, tenha muito mais influência do estilo de Carrasco (a trama é de época – sinto saudades das novelas épicas de Walcyr), o estilo sarcástico de Aguinaldo, o estilo crítico também está pueril e subjetivo nas entrelinhas.
E é como eu disse. Se não se acompanha um ídolo em todos os momentos, a sua vida, a sua história e se, ele próprio, também não ousa expor seus pensamentos e críticas num blog ou num site, se perde e perde seus fãs. Distancia-se!
A tendência, é claro, é estar cada vez mais envolvido neste blog/site. A reformulação ficou fantástica. O site, embora simples, ficou muito charmoso, a cara do Aguinaldo.
Encontrar com um autor na rua é quase um milagre, quase ganhar na loteria! Mas eu já tive esse prazer no Rio, mas, confesso, fui o mais besta de todos os bestas dessa face da terra. Quando o vi fiquei paralisado, pronunciei seu nome, mas não consegui esboçar mais nenhuma palavra. Parecia estar diante de um presidente, de alguém muito superior a mim. Fiquei com medo. Foi uma sensação estranhíssima. Eu o admirava, ele era (é) um dos meus ídolos, mas eu tinha receio de chegar perto, medo de ser rejeitado, sei lá! Eu não era nada diante dele! O que eu poderia fazer ? Ser mais um e dizer: Oi Aguinaldo, eu adoro o seu trabalho, acompanho o seu blog, tira uma foto comigo?”. E foi isso que aconteceu. A timidez tomou conta de mim e foram exatamente essas as palavras pronunciadas por yo. Minha mãe, também nervossíssima-trêmula tirou uma foto praticamente desfocada e eu, suava! Mãos, pés, meias! Depois me despedi, ele apertou minha mão! Não acreditava. Partindo novamente pra Muqui, minha cidade Natal (havia ido ao Rio para uma visita ao projac) eu me mordia de arrependimento. Podia ter sido mais original, ter falado com palavras diferentes. Se ao menos eu soubesse que iria encontrá-lo ali, ensaiaria um texto, um comportamento. A gente nunca imagina encontrar um autor de novelas assim, a paisana num shopping do Rio.
Compartilhei a notícia com alguns amigos medíocres (todo mundo tem amigos medíocres), mas depois me arrependi.
- Aguinaldo? Silva? – esboçaram alguns. Eu perdi a paciência. Eu sei que é natural, mas me indigno com aqueles que desconhecem os autores das novelas que muitos acompanham. Sei que, em parte, é culpa da mídia. Pouca divulgação. Se não se lê, logo na abertura da novela, o letreiro minúsculo “novela de...”, talvez haja a oportunidade de vê-lo num programa de famosos que passa em alguma REDE de TV. Ah! Tem ainda as chamadas de estréia da novela. Mas quem dá valor ao “Vem aí, a próxima novela das 8, de Aguinaldo Silva...” se o que, hoje em dia, o apelo é muito mais imagético? As pessoas querem ver os atores, os belos e as belas, os cenários!
Quanta ignorância! Como não conhecer e dar valor aos principais responsáveis pela trama, pelo beijo que muitas donas de casa assistem suspirando apaixonadas?
Mas a gente aprende com tudo nessa vida. Da próxima vez que encontrar Aguinaldo (tomara que isso aconteça! Em fevereiro faço uma oficina audiovisual no canal futura), farei um esforço absurdo para não ser mais um. Quero me apresentar dignamente, assim como, agora, eu me apresento aqui. Não vou simplesmente gaguejar e tirar uma mísera foto. Sossegado poderei admirá-lo como amigo e como pessoa de opinião, independentemente de Globo, de novela e de SIC.
De fato, não consegui, aqui, ser original. Fui apenas mais um: o que fala de si e que elogia. Mas também não me arrependo. Falar de si, elogiar e, principalmente, escrever, mesmo prolixamente, é algo fundamental para quem quer ter uma opinião de peso e gerar polêmica".
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Muqui, livro, filme, toddynho e Walcyr
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Excesso e exceção
Nunca fui muito de falar, até dentro de casa. Sempre fui de observar e escrever. Quando alfabetizado, escrevia nas paredes e me arriscava numa velha máquina de escrever do meu avô, guardada numa maleta empoeirada debaixo da sua cama. Eu já sonhava em ser escritor.
Casado há mais de 62 anos, meu avô é um exemplo. Ele, que já foi agricultor é, hoje, um grande artesão, um excelente poeta e meu maior orgulho. A sua força e o seu trabalho me inspiram.
Certa vez escrevi no papel tudo o que sentia sobre ele. Aproveitei que estava num raro momento de descanso e, tímido, lhe entreguei o escrito. Minutos depois de ter iniciado a leitura, lágrimas escorreram dos seus olhos.
-Você me deixou emocionado. – ele disse. Eu, também emocionado, não sabia o que dizer.
Sua emoção fez-me acreditar no meu próprio sentimento. Nunca imaginei que eu, um neto aparentemente quieto, pudesse fazer meu avô se emocionar tanto ao ler tudo aquilo que era, na verdade, um relato de um estranho observador, um próximo distante, um neto apaixonado.
Se hoje, prefiro escrever a falar, devo isso ao meu avô, à sua gama de dominar as palavras, criar personagens, poemas, histórias e fábulas inteiras através da escrita.
Minha mãe, sábia professora, também é outra referência. Certa vez me relatou que, no passado, já chegou a ter que escrever em papel de pão. Moravam todos na roça, onde as dificuldades eram maiores, mas nem por isso, insuperáveis.
Recentemente sonhei que havia perdido a voz. Acordei meio perturbado, mas confesso que, não me senti tão mal. A língua é um artifício importantíssimo e a voz, é claro, é essencial para o ser humano, mas fim do mundo seria se eu não pudesse externar tudo o que sinto no papel. Nele me expresso exatamente do jeito que pensei e observei.
Prefiro escrever a aparecer, prefiro ensaiar, cenografar, produzir e gravar do que ser o ator principal, o mocinho ou o vilão. Prefiro ficar atrás das cortinas, na coxia. Devo ser uma exceção. E como! Certa vez, no colegial, tremendo de nervoso por ser obrigado a falar em público, deixei o microfone cair. Ninguém suportou o barulho! Chamei muito mais atenção. Que constrangimento!
No namoro também falo pouco. Acho até que as mulheres preferem aqueles que “comem quietos” a um Don Juan falastrão, que promete muito e cumpre pouco. Sou homem de pouca fala e muitas palavras.
Já me confessei, como todo bom cristão-católico, mas foi só uma vez, quando o ato era requisito para a primeira eucaristia. Depois disso só me confessei no meu blog que, quieto, suporta todas as minhas blasfêmias, minha prolixidade. O texto é a minha voz e eu não dependo tanto ser ouvido, mas de ser, simplesmente, lido.
É difícil pensar numa sociedade que não fala e só escreve, mas é possível admitir que alguns tenham mais facilidade na escrita do que na língua. Outros tantos também podem discursar como um político, mas escrever como um analfabeto. E é terrível ter de pensar que, ainda hoje, existem analfabetos, gente que depende da fala e só.
Tenho muito mais medo de perder a escrita do que perder a fala. Na escrita nada falha. Sempre haverá uma velha máquina de escrever que funciona ou um papel de pão no fundo da gaveta esperando ser desamassado para algum fim.
Sei que muitos querem ter voz. Espanto-me ao ver meus colegas de classe se engalfinhando para expressarem suas opiniões e defendê-las arduamente durante as aulas, ou os políticos clamando por mais espaço na TV. Porém, quando eu escrevo, escrevo pra valer e também protesto, do meu jeito, por mais espaço.
É aterrorizante quando os professores de redação impõem severos limites de espaço. O Word, neste caso, é meu inimigo. Quando é escrito à mão, no papel, espremo as letras. As palavras ficam sufocadíssimas nas linhas. O espaçamento entre uma palavra e outra fica mínimo, abrevio certos quês e algumas palavras que soam repetitivas. No final, sempre acho que tudo o que fiz fez o texto perder o sentido querido.
Mas ainda bem que não existe limite para quem gosta de escrever, que o Word não tem finitude e que, nas madrugadas insones da vida, posso, silenciosamente, escrever, escrever e escrever sem ter que, como um louco, ficar falando sozinho.
Se benze que dá
Procurando ser menos auto-referente saí de casa à procura daquilo que eu mais carecia: inspiração. Acompanhado de um texto acadêmico, entrei num ônibus e parti para Ouro Preto. Dentro dele, enquanto lia o texto e tentava, entre uma parada e outra, sublinhar alguns parágrafos importantes, percebi o quanto é interessante a dinâmica do vai e vem dos carros e do entra e sai de pessoas. Percebi, principalmente, como é caótico e constrangedor o trânsito de Ouro Preto.
Falo em constrangimento porque, muitas vezes, carros são obrigados a dar marcha ré, pois um ônibus ou outro carro de grande porte já havia entrado na pista (se é que podemos denominar as ruadelas de Ouro preto como tal). E pra mim, um tímido ao extremo, esta situação é, sim, um baita constrangimento. Daí entra o nervosismo, a morte do carro, a vergonha.
O trânsito
Entre as casas, telhados e muros de pedra um semáforo moderníssimo ganha lugar. Faz-se necessário, mas é extremamente contraditório. Placas de trânsito são importantíssimas, mas arranham o visual. E a Praça Tiradentes, ponto turístico da cidade, se transforma num grande estacionamento.
No trânsito muitos se estressam, falam palavrões e perdem a paciência. E como fica o motorista turista? Aquele que não está acostumado com o trânsito, com o semáforo e, principalmente, com a ignorância de alguns? Coitados, se envergonham. Pedem desculpas, do seu jeito.
-Sorry.
Por isso, turistas, eu recomendo: andem de ônibus porque, nem mesmo a pé, compensa. Não há como transitar a pé numa cidade histórica como Ouro Preto. Aqueles que se arriscam estão sujeitos a serem espremidos contra a parede por algum carro, ou a sofrerem, no futuro, algum tipo de artrite, artrose e varizes (sem falar nos problemas sérios da coluna).
Ouro Preto não é cidade pra rico, pra mulheres de salto alto, para criança e, muito menos, para idosos. Definitivamente, Ouro preto é uma cidade velha, mas que foi feita quase que exclusivamente para jovens, pra gente com gás de subir e descer as ladeiras sem medo, com coragem. Por isso, a maioria dos ricos e das mulheres de salto alto transitam em seus carros, sobem e descem as ladeiras enchendo ainda mais a Praça Tiradentes.
Quem não tem paciência, não está habilitado para dirigir em Ouro preto. Não só paciência, mas cautela, noção de espaço e geometria, amor pela vida, habilidade com os pés, força e fé. É como diz a música de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown: “Fé em Deus e pé na tábua”.
Quando chove então, Ouro preto é o caos, até mesmo dentro do ônibus. As pessoas entram com os guarda-chuvas literalmente guardando chuva, molham os assentos, enchem de lama o chão. Tudo estaria perfeito se ainda não entrasse criança chorando e gente espirrando. Lembro aqui, de um bloco carnavalesco do Rio e que faz jus à situação: “Se benze que dá”.
Mas a dinâmica dentro do ônibus é interessantíssima. Por alguns instantes aquela comunidade que se forma dentro do carro é a sua família. Se lá na frente alguém espirra, outro do lá do fundo deseja:
- Saúde!
Algumas pessoas conversam, falam do tempo, alguns comercializam e outros ficam foneticamente desligados do mundo ouvindo MP3.
Estar no ônibus, num ambiente temporariamente partilhado por pessoas que talvez você nunca tenha visto me faz pensar nos raros momentos em que corpos diferentes ocupam um espaço
Por isso, mais uma recomendação (agora àqueles que se sentem abandonados): dentro do ônibus você pode encontrar a sua família. Pelo menos formar a sua, fazer amizades e até encontrar uma namorada. Ninguém fica órfão, ninguém fica só.
Ainda dentro do ônibus percebi que ele, apesar de tudo é um veículo importante para o vai e vem das pessoas. Mas o estresse precisa diminuir para que os carros, caminhões, bicicletas e pedestres circulem na mais perfeita harmonia, sem estresse e sem constrangimento.
Portanto, amigos, o trânsito ouro-pretano pode ser um caos, as ruadelas podem ser palco para muitos constrangimentos, mas tudo isso é necessário. A cidade é como é, não há como mudar. Há como esperar, com paciência, sem ignorância. Pra isso existem ótimos remédios. Quem não tem rádio ou DVD no carro para ouvir Mozart, pode começar com uma revista de palavras cruzadas, que também é uma ótima pedida. E, se ainda assim, o nervoso não passar, se benze que dá!
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Acidente e blá blá blá
Muita gente fala dos meus trabalhos, elogia os vídeos que faço amadoramente, mas com muito capricho, entrega e carinho. Admito que tenho afinidade com o audiovisual, com as expressões culturais variadas, com produção e facilidade para entender o universo do cinema. Faço o meu melhor, faço por gostar, por querer, por paixão.
Muitos são bons em alguma coisa e, péssimos
A minha cidade natal, as ruas estreitas, mil motivos para lhe estressar. A cidade, a rua e os motivos foram palcos do meu primeiro acidente de carro, o primeiro e mais bizarro, o primeiro e mais frágil, o primeiro e mais tranqüilo, o primeiro e último (espero eu).
Tirei carteira de habilitação há pouco tempo, no meu carro dirijo com certa confiança, mas no dia do acidente estava conduzindo o carro da minha sogra. Não é um carro novo, tem suas especificidades, algumas traquitanas que, acredito eu, contribuíram (e muito) para que o carro sambasse pela rua estreita e cheia de carros estacionados. Poderia ter batido em alguns dos muitos veículos parados, poderia ter atingido alguém, alguma criança, algum adulto, algum cachorro. Mas o carro entrou desgovernado na calçada e bateu com tudo num poste antigo. Até hoje não acredito que o poste não caiu. Dias depois tive pesadelos horrorosos, parecia que, após o acidente o poste todo condecorado de fios caia sobre o capô do veículo. Graças a Deus isso não aconteceu. Graças a Deus, mesmo!
Perceber que tudo estava bem comigo me tranqüilizou, mas ver minha namorada sangrando me fez sentir triplamente culpado, mal e nervoso. Ainda bem que eu sabia o que fazer. Nem dei atenção aos curiosos que se aproximavam, pulei da janela do carro (a porta não queria abrir) e apanhei Mariana no colo do outro lado do veículo. A multidão já cercava o local. Curiosos que esperavam essa oportunidade para começarem a série de bochichos, especulações. Eu sabia que seria difícil enfrentar tudo aquilo nas próximas cinco horas, mas eu estava mil vezes mais preocupado com a saúde do meu amor, com a sua segurança, do que com três dúzias de pessoas que mal sabiam do que e de quem estavam falando. A minha pouca “experiência” com veículos devia ter sido apontado por todos como o principal motivo do acidente.Mas eu queria que todos ficassem sabendo da minha humildade e da minha preocupação comigo e com os outros quando estou dirigindo um carro. Para a minha sorte, o acidente aconteceu perto da casa de um dos professores da auto-escola onde tirei a carteira. Ele descartou quaisquer possibilidades de eu estar conduzindo o carro de maneira incorreta. Sempre fui um aluno aplicado na auto-escola, participei de todas as aulas teóricas e práticas, não precisei de nenhuma aula extra e passei na primeira prova.
Por ser mais novo, o comentário era que eu ainda estava imaturo para dirigir. Mas, se todos consideravam a minha nova idade para dirigir, porque desconsiderar a velhice do veículo? Respirava, a cada momento em que chegavam aos meus ouvidos boatos dos mais absurdos possíveis a meu respeito e a respeito do acidente. Eu simplesmente ignorava, assim como passei a ignorar as outras tantas pessoas que chegaram perto de mim muito mais interessados em tirar de mim explicações que se confundissem do que prestar apoio e confiança.
Desculpas eu devia a Mariana (pelo acidente, pelo susto) e à Maria, minha sogra, pelo carro, pelo susto também sofrido por ela.
Hoje, quando assisto à Jornais televisivos e ouço, dos repórteres, notícias de acidentes, arrepio. Acredito que todos aqueles que já passaram pelo susto causado por um acidente, devem sentir uma sensação estranha, pelo menos se sentir desconfortáveis ao verem cenas de desastres com veículos no trânsito.
Ao contrário do que podem pensar, não peguei trauma algum com o trânsito, continuo dirigindo tranquilamente, mas com cautela, atentando para qualquer interferência externa ou interna. Muqui continua sendo o meu paraíso embora seja berço de faladeiras, beatas e fofoqueiras. Muqui continua sendo, ao mesmo tempo, a cidade abençoada e amaldiçoada. Divina pela sua riqueza artística e atormentada pelo esquecimento, pela má gestão dos políticos (se é que podemos caracterizar tais como políticos).
Lidar com pessoas ainda continua sendo muito mais complicado que lidar com os carros, sejam eles novos ou velhos.
Por incrível que pareça, agradeci a Deus pelo acidente. Agradeci por ele não ter passado apenas de um susto. Maria está fazendo os reparos no carro e acredito que tudo isso aconteceu para o melhor. Às vezes fico a imaginar se o acidente não tivesse acontecido dentro da rua, mas sim num asfalto, com o carro em alta velocidade e com mais pessoas dentro.
Deus me livre!
Sei que Deus me livrou. Livrou-nos de outra e qualquer possibilidade de acidente fatal, um choque mais pesado. Foi um susto para nunca mais esquecer. Um susto que serviu de experiência para eu saber como as pessoas da minha cidade reagem e como se comportam diante de acontecimentos urbanos e banais como este. Muqui pode ser a cidade mais paradoxal e esquecida possível, mas seus habitantes são sempre espirituosos, criativos, inventivos e cheios de graça.
Premiação em Brasília - DF
Eu partia para o Rio e de lá para Brasília onde participaria da Cerimônia de Premiação do meu vídeo inscrito no 1º Concurso de Foto e Vídeo “Olhares sobre a Água e o Clima” promovido pela WWF Brasil, pelo HSBC Climate Partnership e pela ANA, Agência Nacional de Águas. Tudo foi muito corrido e simples, mas o Rio de Janeiro visto dos céus não é nada simples. É maravilhoso, revigorante. Para quem já está acostumado, nenhuma sensação. Mas para quem sobrevoava a cidade carioca pela primeira vez era uma emoção que pretendo repetir.
Fiquei pouco tempo em Brasília, o voo de volta ao Espírito Santo era no dia seguinte ao meio dia. Havia tempo suficiente para uma saída a noite e um passeio breve na manhã seguinte. Quando lia e ouvia que Brasília era uma cidade planejada, não acreditava que isso fosse tão material na realidade. Mas o fato é que, em Brasília, é tudo assim! Quer um hotel? Vá ao setor hoteleiro. Um hospital? Vá ao setor de hospitais. Presidente no seu devido palácio, vice no outro, ministros e outros bam bam bãns em suas mansões residenciais próximas às embaixadas dos mais variados países europeus e americanos. É tudo tracejado, tudo delimitado, cerquinhas, plaquinhas e muros. Ado, ado, ado, cada um no seu quadrado.
Ainda na capital brasileira, percebi pouco movimento. Nada de ruas residenciais, calçadas apertadas, trânsito de pessoas. Para falar a verdade vi poucas delas. O que mais vi foram asfaltos intermináveis que ligavam extremidades a outras. Sozinho eu me perderia, com certeza, e acho que nem GPS resolveria. Vi muita grama (seca, por causa do tempo árido em Brasília), vi muito concreto, muita janela, algumas flores também em seus devidos lugares, delimitadas, cercadas. Não vi cachorros, não vi casas populares, não vi barulho de gente, conversa, orelhão, lojas e bares em cada esquina, padaria, banca de revistas e jornais. Talvez não tenha visto tanta coisa por ter andado apenas no centro da capital. Mas o centro de uma cidade diz muito sobre o seu conjunto.
A capital brasileira não é, definitivamente, uma cidade turística. Porque turista que é turista sempre carrega pouco dinheiro na bagagem e Brasília é uma cidade feita para quem tem dinheiro, e muito! As lojas dos aeroportos esbanjam produtos caros e refinados e, para se deslocar de um ponto a outro da cidade é conveniente pagar um táxi que, também não é uma opção econômica.
Foi divertido, porém depressivo, andar sozinho por aquelas ruas largas e calçadas vazias. Andei bastante, viajei observando aquelas construções de Niemayer e, quando me dei conta, já estava bem longe do hotel. Voltei tudo a pé. Passado mais algumas horas eu já estava no avião retornando para Vitória, no Espírito Santo. Um troféu na bagagem e um calo inconveniente no pé.

Do papel para a tela

Tenho muito orgulho da minha cidade. Tenho muita satisfação de ter nascido no interior, numa cidade não muito conhecida por muitos brasileiros. Um cantinho de terra, uma vila com poucos mil habitantes. Sou feliz por ter crescido com pessoas maravilhosas num bairro tranqüilo numa cidade inspiradora. Muitas pessoas e muito do que vi e vivi foram fatores primordiais para as minhas escolhas futuras. Ainda hoje não sei o que quero ser e aonde quero chegar. Faço Jornalismo, mas não me vejo como jornalista no futuro. Gosto de cinema, trabalho com isso, me arrisco, ouso. Mas também não quero ser um cineasta. Tenho medo dessa minha inquietude. Ainda é dúvida qual caminho quero seguir, que rumo devo trilhar. Mas assim é a vida.
Mas fico satisfeito quando estabeleço metas e propostas de criação e produção e consigo alcançá-las. Muitas dificuldades e problemas aparecem, mas tudo isso faz parte do desafio. Desafio este que ninguém me obrigou a enfrentar, mas eu mesmo quis me impor, é assim que me conheço, conheço os meus limites, até onde vou e até onde vai a minha paciência e criatividade nesses projetos. É gratificante ter em quê pensar, ter espaço, gente e criatividade para tocar os projetos , idéias e histórias surgidas da minha cabeça numa cidade histórica cheia de casas e fazendas ricas que se tornam pano-de-fundo para os vídeos metragens.
Ver as cenas de “A Herança” saindo do papel foi tão mais emocionante que ver amigos empenhados em ver essa história ganhando vida e cores numa telinha digital simples, mas que comporta muitas idéias e sonhos. Mesmo com poucos recursos conseguimos confeccionar figurinos sofisticados, elementos de cena, cenários de filme. Tudo com muitos suor, tudo com muita luta, tudo com muito amor. Ao final das férias, depois de ter conseguido gravar quase que 90% de todo o filme, soube da premiação de um vídeo meu inscrito no Concurso de Foto e Vídeo promovido pela WWF Brasil, pelo HSBC Climate Partnership e pela Agência Nacional de Águas. Parecia o começo de um tímido reconhecimento que, tenho certeza, irá crescer cada vez mais.
Julho foi mês de...gravação!




sexta-feira, 23 de abril de 2010
Vergonha e descaso no Teatro de Muqui.

Cresci admirando as representações artísticas e culturais da minha cidade. Com o tempo passei a cultivar e olhar de maneira diferenciada o rico patrimônio histórico de Muqui. O prédio utilizado para a instalação do teatro é uma construção de 1926. Uma belíssima representação arquitetônica construída no ano de nascimento de meu avô. Avô que, cresceu sem teatro, sem instituições culturais, sem impulso, mas que desenvolveu sozinho o seu dom. Meu vô Juvenal será o meu melhor poeta, a minha melhor inspiração, meu pai-avô-educador.
E se aqueles que cresceram sem o aparato estatal cultural conseguiram desenvolver sua veia artística, porque, hoje, não podemos utilizar esse aparato, essa base fornecida pelo estado, para desenvolver e abranger, divulgar e fazer crescer o movimento artístico da pequenina cidade de treze mil habitantes?
A juventude da cidade se dissipa aos poucos. Muitos buscam sua carreira em cidades próximas, faculdade, emprego. Mas, os mesmos que se dissipam se unem, em momentos oportunos, para discussão sobre o desenvolvimento artístico da cidade. E o teatro? Perguntamos. Nada vemos, nada temos. Ele está lá, montado. Cadeiras novinhas, cortinas, palco, luz. Do que mais precisamos?
Há tempos a construção do teatro engatinha, mas me parece que, em pleno ano de 2010 ele está finalizado. 2006, 2007, 2008, 2009...Não sei ao certo o que está acontecendo, o que impede que ele seja “entregue” para a população como um presente ansiosamente aguardado. Não fazem questão (seja o estado ou o município em si, personificado na figura do prefeito e governador, tal como as secretarias de cultura) de informar à população como um todo o que procede, o que impede, qual as dificuldades... A população também não cumpre o seu papel, não questiona, não cobra. Mas acho difícil as pessoas cobrarem, questionarem algo que, realmente não vêem. Espantei-me ao perceber a quantidade de pessoas que desconhecem o teatro, sua estrutura que já está em perfeito estado para apresentação de peças. As pessoas não sabem o que há la dentro daquele prédio, desconhecem tudo, nem imaginam que havia um teatro em construção na cidade há anos.
É difícil questionar, cobrar por algo que não conhecemos, por algo que não sabemos. Infelizmente é o que acontece com muita coisa no Brasil. Muito dinheiro jogado fora, e muitos adolescentes apresentando suas peças de forma precária nas ruas da cidade, em lugares incomuns, condicionados ao Salão Paroquial da paróquia de tantas cidadelas desse país.
O povo muquiense não precisa de um teatro com todas as exigências de um mega-teatro, de uma estrutura gigantesca. Se eu fosse descrever o que realmente percebo é o seguinte: O teatro de Muqui está pronto. Está tudo lindo, cadeiras, mesa de controle, cortinas, camarins. Tudo! E está assim desde que o vi em 2008. Até hoje não sei quem controla o local, de onde veio a verba para a elaboração do teatro. Alguns me dizem que o prefeito da cidade não liberou um dinheiro que era necessário para uns últimos ajustes, outros dizem que ainda não encontraram pessoas certas para a administração do local, outros que ele ainda não está pronto por causa de algumas exigências como “saída de emergência” enfim.
Penso que, as peças, as obras artísticas da cidade continuariam ocorrendo perfeitamente se não houvesse um teatro, se não houvesse um prédio que destinasse seus espaços para a elaboração artística. Penso que a juventude muquiense continuaria, através de seus recursos (que são poucos) a exercitar a arte de uma maneira bem criativa, diferente e, mesmo assim, inovadora. Mas, já que há um aparato bacana para abrigar esse pessoal da arte e da cultura, já que há um teatro propriamente dito, espaço para as pessoas, espaço para o desenvolvimento da arte...porque não utilizá-lo? E se isso não é viável, porque não apontam os problemas? Porque não esclarecem? Porque não dão um aviso? Não informam?
E a cidade continua no mesmo marasmo, no mesmo vai-e-vem de carros, carroças e animais. No mesmo chão onde nascem e crescem raízes, veias artísticas herdadas por pessoas de sangue talentoso. Na terra condenada ao descaso, há ausência de coordenadores, de administradores, de secretários, subsecretários de pulso forte, há presença de todo um aparato administrativo morto (assim como em várias cidades interioranas).
É difícil prever o futuro das coisas, mas é fácil pensar nas tantas pessoas que não fazem a mínima questão em oferecer o que há de melhor no mercado artístico, para aqueles que carecem, não só de espaço físico, mas de incentivo, orgulho, sentimento de pertença.
É por essas e outras razões que, apesar de tudo (falta de incentivo, falta de estrutura, falta, falta e falta..) acredito na cultura capixaba, no seu crescimento e na sua transformação. Faço um minuto de silêncio para pensar nos teatros construídos pelo Brasil e que estão assim, construídos e largados. Teatros fantasmas, ficcionais. Teatros que viram lenda, museu, mito, caverna obscura que vela possibilidades múltiplas de encantamento e emoção.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Discurso rodoviário

Sem, absolutamente nada para fazer, pensei em ligar o laptop. Escrever, que saudade! Lembrei dos conselhos de amigos. A rodoviária de vitória é realmente um caos, aberta, escura, estranha. Repensei e guardei o computador junto às coisas. E se eu ligar para alguém, conversar? Mas quem me atenderia às cinco e vinte da manha?
Eu estava me sentindo absolutamente desprotegido. Insegurança. Insegurança que aparece numa fase em que estamos um pouco mais independentes, mesmo que, financeiramente, esteja dependente dos pais.
Eu estava com uma fome absurda. Fome de gente que não consegue dormir bem numa viagem noturna. Fome de gente que madruga. Nada para comer, nenhuma lanchonete próxima, na-da. Olhei aquela rodoviária toda. Tudo silencioso na manhã da capital espírito-santense, mas a rodoviária lembrava um inferno. Parecia um céu nublado, pessoas incomuns, gente pobre e sedenta abordando as pessoas. Às vezes não tendo o que comer, outras vezes não tendo a humildade e a vergonha na cara.
Passara um tempo, fui comprar a passagem para Cachoeiro de Itapemirim. O guichê estava próximo. Abri a carteira, paguei, voltei ao meu lugar, sentei-me, a carteira continuava aberta em meu colo. Em menos de 10 segundos uma garota apareceu na minha frente, me abordando. “não queria te assustar”, ela disse. Mas conseguiu.
A menina vestia umas roupas amarronzadas, um lenço na cabeça, andava descalça. Tinha uma cara feia, olhos quase fechados.
__Olha, não vou ter roubar, nem pedir dinheiro. – não era a primeira vez que me abordavam ali, naquela fédida rodoviária. O discurso era sempre o mesmo. – só quero um trocado pra comprar um café. – ela disse sendo controversa. Não quer pedir dinheiro, mas me pediu um trocado. Trocado não é dinheiro?
Confesso que sou mesmo muito ingênuo, careta. Não esboço nenhuma palavra quando o assunto é pedinte mal encarado. Abro a carteira imediatamente e dou a primeira nota que vejo na frente. Entrego a grana sem nem olhar para a sujeita.
Mal lembro se ela agradeceu. Mas disse: “não deixa a carteira à mostra, tem muito bandido por aqui”. Ok. Ela realmente me deixou muito, muito tranqüilo.
Passado alguns segundos de angústia, guardei a carteira, e me agarrei junto às malas feito um desesperado. Desprovido de segurança. Olhei para os lados. Vi a mesma garota pedindo outras pessoas mais à frente. O mesmo discurso.
Olhei embasbacado a ousadia da menina. Percebi que era uma das maneiras mais fáceis de se viver e ganhar dinheiro. Naquele vai e vém de pessoas, deveria ser comum encontrar pessoas que, como eu, estavam preocupadas com a fome das pessoas neste país, ingênuos, caretas, idiotas, coitados.
Meu próximo ônibus chegou, entrei ainda observando a garota chegar até o final do saguão. Acho que ela já podia comemorar. Havia tido um bom rendimento, lucro suficiente para ter um luxuoso café da manhã. Eu, um dos patrocinadores, viajava para casa com inveja, com estômago gritando de fome.
domingo, 21 de março de 2010
Espírito Santo no Mapa!

Já andei reparando o noticiário espírito-santense tanto televisivo quanto impresso. Falta muita coisa, aqueles profissionais podem bem mais. Confesso que não suporto Vitória (a capital), mas que seria um desafio conhecê-la a fundo e descobrir coisas ocultas que ninguém viu e teve a ousadia de captar de modo criativo, experimental, documental.
Estou interessado em voltar ao Espírito Santo e investigar seu passado, investigar sua gente seu povo. Perguntar as pessoas o que acham sobre o próprio estado. Estou a fim de conhecer realmente o Espírito Santo, um pouco de cada cidade, um pouco do oculto de cada município. Conhecer os lugares conhecidos pela lenda, documentar a cultura, os causos, os versos dos humildes.
Quero navegar pelo cinema capixaba, fazer parte do mesmo e, me diferenciar de muitos, que se esquecem do estado o qual nasceram. Sonho.
Minas, por exemplo, possui muitas vertentes, várias identidades dentro de outra identid

Já conheci baianos que fizeram conhecer o dialeto único, conhecível em qualquer lugar, conheci gaúchos que cá trouxeram seu chimarrão, seus costumes e seu falar diferenciado, já conheci o modo peculiar dos mineiros, a maneira como se dirigem à cultura e costumes de seus estados, como as exaltam com veemência, como tem orgulho.
Quero criar para mim um estilo audiovisual pautado e baseado em alguma cultura, e quero, desejo que essa cultura não seja a mais conhecida de todos. Que graça teria algo repetido, já conhecido? Quero algo novo, algo a se descobrir, de

Talvez, nessa minha viagem audiovisual e jornalística, me perca no meio da história capixaba e me fixe lá por completo. Também não será nada mal. Só não espero morrer de fome. Sei que sofrerei para fazer aquilo que gosto, insistirei com todas as minhas forças, batalharei. Estou percebendo desde cedo que não é fácil. Quem se arrisca no cinema deve ser muito corajoso ou ter muito dinheiro como João Salles. Fazer cinema e jornalismo é um prazer, não simplesmente um hobbie (também é). Quem faz cinema ou quem faz jornalismo é porque tem a certeza de que é aquilo que quer . Todo estudante de jornalismo chega à faculdade ainda com duvida entre a comunicação e o direito. Propagam-se, entre as próprias famílias, sociedades em geral que engenharia, medicina e tais, tais... são os cursos que nos garantem profissionalmente. Não me oponho. Sei que um médico recém formado ganhará sempre mais. O que me impressiona é o fato da pessoa estudar 6 anos já sabendo que terá um futuro garantido, dinheiro no bols

O legal é arriscar suas pratas num jogo imprevisível até o fim, saber o que quer exatamente, viver intensamente cada momento, sempre com preocupação no futuro, claro, mas ter vontade para experimentar , para tentar. Nada é tão importante, também, do que ter na cabeça o qual será o viés a se seguir, qual a ‘identidade profissional ‘ que será seguida. Eu já estou traçando a minha, pensando, planejando, sem frustração e medo.
Uma viagem no meu mundo de criações
Chego de uma longa e trabalhosa temporada no Rio de Janeiro. Digo trabalhosa porque foi um momento em que eu, enquanto a namorada fazia uma oficina nas dependências da fundação Roberto Marinho, tive várias e várias idéias. Vontades de transformação, mudança com relação ao meu estilo de trabalho. Mudanças necessárias, mudanças pequenas, não radicais.
Tudo foi construtivo para a minha volta. Quis chegar na minha cidade natal produzindo coisas com qualidade, mais qualidade ainda. Tempo? Realmente eu não tenho. E entre aproveitar o carnaval da minha pacata cidade natal e começar uma pequena jornada de gravações no mesmo período, fico com a primeira opção. Muito estresse, muita preocupação, mas, muito tesão, confesso.
Ultimamente tenho tido preferência pelos produtos menores, pelas coisas menos trabalhosas. Confesso que consigo transformar uma produção de um curta metragem de um minuto e meio numa coisa altamente preocupante e estressante, mas a proporção ia aumentar se o produto final fosse um longa-metragem. Passei a me dedicar com trabalhos pequenos, coisas bem produzidas e compactas, coisas gostosas de fazer e que não me limitem, não limitem minhas férias, meu namoro.
A minha preferência mesmo é passar as próximas férias trabalhando com aquilo que gosto, aquilo que gosto mais ainda que as aulas de jornalismo, sempre teóricas por enquanto. Voltar para a minha cidade natal ainda continua sendo inspirador. Não minto que Ouro Preto possui um alto dom de inspiração, uma beleza histórica e artística que me deixa tão embebedado que fico imóvel. Sobra apenas a ilustre capacidade de apreciar, viajar e sonhar em produzir algo ficcional ali no futuro. Nada de verdade, apenas as paredes e as fachadas de décadas
Ouro Preto e Mariana continuam cheias de informação. São cidades que atraem turistas de todos os cantos da América. São berços de eventos incrivelmente bem produzidos e calcados na cultura da região. Domesticam uma grande quantidade de livros, acervo que deixa clara as manifestações que ocorrem ali, as histórias vividas, os acontecimentos mais marcantes. O fato é que Ouro Preto é uma cidade de grande peso cultural no país.
A ocultalidade ainda é algo que chama minha atenção. Sou atraído pelo secreto, o escondido. As histórias mal contadas, os versos dos personagens mais estranhos e discretos. Por isso, voltar a Muqui durante as férias, mesmo que por alguns dias, é algo que me deixa redondamente feliz. Muqui me instiga e faz pensar. Quando penso, invento e, quando invento, me alegro, me enfeitiço, me faço acreditar naquilo que eu próprio inventara. Aí sim passo a acreditar que as coisas são possíveis quando se pensa, se sonha, se inventa de verdade. Contradição. Quando “se inventa de verdade”. Sou um eterno mentiroso, um reles e mortal indivíduo que tem o um nariz que cresce infinitamente. Criar histórias ainda é algo que me fascina. A Herança é apenas uma das minhas maiores mentiras. Escrevi com base na realidade, nas coisas que ouço nas ruas, nas coisas que vivencio dentro da minha própria casa. Por incrível que possa parecer e por mais que a mentira ainda seja, em parte, ridicularizada pela sua criação, grande parte de acontecimentos reais, vividos pelos mortais, às vezes parecem inacreditáveis, coisas capazes de surpreender e ultrapassar até, o mundo ficcional.
Quando lemos jornais revistas e outros meios de comunicação, entre eles a internet que é o meio que consegue ser multifacetado, globalizado e altamente atualizado, surpreendemos pelas quantidades de acontecimentos que assustam. Muitas são as histórias, os vídeos, as fotos.
O cinema entrou na minha vida de forma discreta. Talvez ele já estivesse presente desde a minha primeira criação de história, algo que ocorreu lá pelos meus 9, 10 anos de idade. Talvez não. Quando vou produzir qualquer coisa, seja ela a mais simples possível, procuro estar por dentro da produção, cenografia, direção, fotografia e roteiro. Eu não conseguia me desapegar, confiar inteiramente em outras pessoas. Sim, sei que isso não é certo. É preciso se desapegar do projeto, fazê-lo coletivo, abrangente.
Essa viagem foi importante para mim. Ouvir aqueles profissionais novamente foi enriquecedor. E vou levando a vida, pensando, criando, coisas grandes, coisas pequenas, simplesmente coisas.