quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Acidente e blá blá blá

Muita gente fala dos meus trabalhos, elogia os vídeos que faço amadoramente, mas com muito capricho, entrega e carinho. Admito que tenho afinidade com o audiovisual, com as expressões culturais variadas, com produção e facilidade para entender o universo do cinema. Faço o meu melhor, faço por gostar, por querer, por paixão.

Muitos são bons em alguma coisa e, péssimos em outra. Não sou bom no futebol, mas nem por isso deixo de me arriscar em algumas peladas improvisadas com uma bola. Não sou um arquiteto, mas nem por isso deixo de planejar e arquitetar na minha cabeça, como será a minha casa no futuro, com todos os detalhes artísticos mais malucos e sofisticados. Sonho. Todos sonhamos. Temos desejos particulares, somos artistas sempre. Todos são profissionais por excelência em alguma área da vida. Escrevem, dançam, pintam, cantam, medicam, arquitetam, elaboram. Não somos todos excelentes motoristas, mas nem por isso deixaremos de dirigir um carro, de nos deslocar mais facilmente.

A minha cidade natal, as ruas estreitas, mil motivos para lhe estressar. A cidade, a rua e os motivos foram palcos do meu primeiro acidente de carro, o primeiro e mais bizarro, o primeiro e mais frágil, o primeiro e mais tranqüilo, o primeiro e último (espero eu).

Tirei carteira de habilitação há pouco tempo, no meu carro dirijo com certa confiança, mas no dia do acidente estava conduzindo o carro da minha sogra. Não é um carro novo, tem suas especificidades, algumas traquitanas que, acredito eu, contribuíram (e muito) para que o carro sambasse pela rua estreita e cheia de carros estacionados. Poderia ter batido em alguns dos muitos veículos parados, poderia ter atingido alguém, alguma criança, algum adulto, algum cachorro. Mas o carro entrou desgovernado na calçada e bateu com tudo num poste antigo. Até hoje não acredito que o poste não caiu. Dias depois tive pesadelos horrorosos, parecia que, após o acidente o poste todo condecorado de fios caia sobre o capô do veículo. Graças a Deus isso não aconteceu. Graças a Deus, mesmo!

Perceber que tudo estava bem comigo me tranqüilizou, mas ver minha namorada sangrando me fez sentir triplamente culpado, mal e nervoso. Ainda bem que eu sabia o que fazer. Nem dei atenção aos curiosos que se aproximavam, pulei da janela do carro (a porta não queria abrir) e apanhei Mariana no colo do outro lado do veículo. A multidão já cercava o local. Curiosos que esperavam essa oportunidade para começarem a série de bochichos, especulações. Eu sabia que seria difícil enfrentar tudo aquilo nas próximas cinco horas, mas eu estava mil vezes mais preocupado com a saúde do meu amor, com a sua segurança, do que com três dúzias de pessoas que mal sabiam do que e de quem estavam falando. A minha pouca “experiência” com veículos devia ter sido apontado por todos como o principal motivo do acidente.Mas eu queria que todos ficassem sabendo da minha humildade e da minha preocupação comigo e com os outros quando estou dirigindo um carro. Para a minha sorte, o acidente aconteceu perto da casa de um dos professores da auto-escola onde tirei a carteira. Ele descartou quaisquer possibilidades de eu estar conduzindo o carro de maneira incorreta. Sempre fui um aluno aplicado na auto-escola, participei de todas as aulas teóricas e práticas, não precisei de nenhuma aula extra e passei na primeira prova.

Por ser mais novo, o comentário era que eu ainda estava imaturo para dirigir. Mas, se todos consideravam a minha nova idade para dirigir, porque desconsiderar a velhice do veículo? Respirava, a cada momento em que chegavam aos meus ouvidos boatos dos mais absurdos possíveis a meu respeito e a respeito do acidente. Eu simplesmente ignorava, assim como passei a ignorar as outras tantas pessoas que chegaram perto de mim muito mais interessados em tirar de mim explicações que se confundissem do que prestar apoio e confiança.

Desculpas eu devia a Mariana (pelo acidente, pelo susto) e à Maria, minha sogra, pelo carro, pelo susto também sofrido por ela.

Hoje, quando assisto à Jornais televisivos e ouço, dos repórteres, notícias de acidentes, arrepio. Acredito que todos aqueles que já passaram pelo susto causado por um acidente, devem sentir uma sensação estranha, pelo menos se sentir desconfortáveis ao verem cenas de desastres com veículos no trânsito.

Ao contrário do que podem pensar, não peguei trauma algum com o trânsito, continuo dirigindo tranquilamente, mas com cautela, atentando para qualquer interferência externa ou interna. Muqui continua sendo o meu paraíso embora seja berço de faladeiras, beatas e fofoqueiras. Muqui continua sendo, ao mesmo tempo, a cidade abençoada e amaldiçoada. Divina pela sua riqueza artística e atormentada pelo esquecimento, pela má gestão dos políticos (se é que podemos caracterizar tais como políticos).

Lidar com pessoas ainda continua sendo muito mais complicado que lidar com os carros, sejam eles novos ou velhos.

Por incrível que pareça, agradeci a Deus pelo acidente. Agradeci por ele não ter passado apenas de um susto. Maria está fazendo os reparos no carro e acredito que tudo isso aconteceu para o melhor. Às vezes fico a imaginar se o acidente não tivesse acontecido dentro da rua, mas sim num asfalto, com o carro em alta velocidade e com mais pessoas dentro.

Deus me livre!

Sei que Deus me livrou. Livrou-nos de outra e qualquer possibilidade de acidente fatal, um choque mais pesado. Foi um susto para nunca mais esquecer. Um susto que serviu de experiência para eu saber como as pessoas da minha cidade reagem e como se comportam diante de acontecimentos urbanos e banais como este. Muqui pode ser a cidade mais paradoxal e esquecida possível, mas seus habitantes são sempre espirituosos, criativos, inventivos e cheios de graça.

4 comentários:

Simone disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Simone disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nicolas Donnangelo disse...

Meu grande amiigo Leo,ja faz muiito tempo que não ô vejo.mais pode ter certeza de que ainda me lembro do seu jeiito de ser.Você se tornou uma grande pessoa,te admiro mto.espero poder te encontrar algum diia.e poder te dar um grande abraço e diizer que você é único meu brother.estou mto feliz por ter o encontrado.Fiica com Deus. e manda um abraço pra todos da sua casa. tenho muita saudadeee de todos. ;D

Nicolas Donnangelo disse...

Leo,deixo aqui meu E-mail,para que possa entrar em contato comiigo.

dangerousdarkside@hotmail.com

Aguardo anciosamente.
um grande abraço.