domingo, 19 de dezembro de 2010

Sobre Passione


Não acompanhei a novela. Nem ao menos vi o primeiro capítulo. A abertura fantasticamente artística e bem elaborada não ultrapassou, porém, a da novela A Favorita em que trilha sonora e uma animação estupenda e singular deixavam os meus olhos brilhando. A novela e a história não me convenceram. A novela em si, não me seduziu. Tudo estava perfeito demais, o figurino, as roupas, a Toscana, a arte, mas a história, o diálogo, o “toma-lá-da-cá” estava fraco demais. As imagens da Itália estavam lindas, coisa de filme mesmo, mas a história não rendia. O que eu sentia era uma produção muito bem elaborada, mas uma trama fraca. Diálogos e cenas estrategicamente pensadas no apelo imagético e não no bom roteiro. É claro que falo isso como leigo. Afinal, não entendo tanto desse universo. Gosto muito de telenovela, gosto muito de entender o processo todo, mas ainda não sou absolutamente ninguém além de um universitário que cursa Jornalismo. Também, como já disse anteriormente, não assisti a novela em período integral. Mas pelas poucas cenas que vi em alguns capítulos foi isso que pude perceber. A novela está insossa, sem fogo, sem gás. O “quem morreu” não chama mais atenção, os mistérios estão fracos, não convencem, não instigam, pelo menos a mim.
Agora, já em reta final, o que se vê é uma pressa. Algumas cenas são gravadas com a câmera na mão, no ombro (nada contra, até porque defendo muito este estilo), mas seria mesmo só estilo, ou expressão de correria. Usar esse artifício só agora, no final, deixa claro que não é um recurso recorrente durante toda a trama e que talvez seja, realmente evidência da pressa. Esquecem-se das imagens, da produção bem feita. Início de novela é sempre tão lindo, final é sempre assim, uma correria, imagens feitas com uma pressa absurda. Pressa, eu sei, está presente em todas as cenas. Gravar é algo complicado. Mas, em reta final, uma novela, principalmente como a Passione, está deixando transparecer isso demais. Não sei se é só impressão. Talvez seja. Novelas com imagens belíssimas, é claro, se edificam, se valorizam. Mas o que o público quer, acima de tudo, não é ver os personagens brasileiros viajando Europa a fora para gravar cenas lindas, mas que não envolvem. O público quer conhecer sim outros países, navegar em questionamentos e entender a amálgama brasileira através destas relações entre países e cultura, mas a história deve, acima de tudo, convencer. E, definitivamente, Passione tomou um rumo que nem eu entendi. Algumas cenas sobre os rumos da metalúrgica Gouveia são entendíveis apenas para alguns. É um discurso muito formal, sobre desvio de dinheiro, sobre compra de ações. Muita gente não entende isso. A favelinha continua sendo um portal. E, antes de querer criar novelas fantásticas, que levem para a Tv relações entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos, um autor precisa criar questionamentos dentro do próprio país. A moça de Copacabana e o cara da favela, a socialite decadente e o pobre vencedor, batalhador. Talvez o contrário. O fato é que o público quer ver imagens lindas, mas bem utilizadas, o público quer ver intriga, quer ver barracos e não simplesmente pessoas bem vestidas, personagens engravatados andando nos carros da Kia pelas ruas sempre lindas e limpas da capital paulistana.

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