domingo, 21 de março de 2010

Exagerado, apenas

São exatamente 2:16 da manha de sexta feira. A insônia não me deixa dormir, não me deixa concentrar. Enquanto virava de um lado para o outro na cama, muito do que já vivi aqui em Minas veio à tona, inclusive aquilo que não foi vivido aqui, mas na minha cidade natal. Saudade daquele povo, saudade daquela gente, saudade daquela terra.
Reparei na provisoriedade das coisas e, principalmente, das pessoas. As conhecemos e as vejo partir assim, sem mais nem menos. Durante esse primeiro período já conheci variadas pessoas. Viajo amanhã (hoje) para o Espírito Santo e sei que, quando voltar, muitas pessoas vou rever e outras não mais. Mudaram a trajetória, rumaram outros horizontes em busca daquele caminho que o satisfaça. Tristeza? Senti, confesso. Uma tristeza no fundo. Uma angústia. Conhecer uma pessoa e saber que pouco provável será revê-la daqui a algum tempo é difícil de assimilar inicialmente.
É como ver um pássaro livre, conhecê-lo numa dada manhã de verão numa praça rústica. Você sabe que ele estará ali sempre, naquela região, na praça ou na cidade, nas vilas, nas ruas, nos forros das casas, mas não o verá da mesma maneira, talvez não haja um reencontro. Na verdade o que sinto agora não é tristeza, mas a assimilação de algo novo para mim, algo com o qual passarei a me adaptar. Pessoas vêm e vão em nossas vidas e podem trazer muito de si, podem nos inspirar, podem nos dar experiência. Sei que no fundo as encontrarei no futuro, não sei se pessoalmente, fisicamente. Mas em espírito, em lembrança. Pode ser que não, mas veremos gestos, movimentos, palavras e ações de outras pessoas que nos remeterão à imagem daquelas personagens que já passaram por nossas vidas mesmo que brevemente, intensamente.
A insônia continua e creio eu que, escrevendo, o sono volte a bater. Tenho estado atônito essa semana, ansioso, preocupado com o fim do ano. Minhas malas estão já prontas aqui do lado do laptop que, nessa madrugada, é meu tolerante que abre as portas para meus desabafos insolentes e perturbadores.
Tive aborrecimentos essa semana, estive num restaurante com os amigos. Amigo-oculto, nada mais clichê e nada tão mais convidativo para uma reuniãozinha charmosa e cheia de bom humor com os recém conhecidos amigos de “meio ano”. O que era para se tornar uma noite de despedida e risos (e foi) se tornou, para mim, um pontapé frente aos já acabaxis que vinha descascando. Confesso que errei em sair naquela noite, mas eu não poderia deixar os amigos lá, sozinhos compartilhando aquele momento bom. Porque eu deixei que isso acontecesse? Infantilidade? Estresse? Preocupação? Medo? Exagero? Sim, todas essas coisas somadas a uma estúpida incompetência de um estabelecimento comercial que não consegue entender as expectativas de um universitário faminto e ansioso. Exagerado? Eu? Sim. Posso mudar? Óbvio, mas enquanto eu perceber que esse exagero me traz benefícios eu continuarei exercendo meu lado crítico, escrevendo, opinando sobre a realidade que conheço.
O exagero pode trazer consigo uma carga opostamente negativa, mas me dá vazão para escrever, para relatar aquilo que sinto, criticar, enxergar coisas que, antes não enxergaria. É incrível, mas foi triste. Abracei os amigos, divertimos bastante, mas nada comi. Cancelei o prato. Eu poderia me considerar o mais afoito em comer, o mais interessado em pagar qualquer valor, qualquer preço por um prato que me fizesse passar a fome. Pobre do garçon, aliás, pobre da gerência (se é que havia gerência naquele lugar) por não reconhecer quem são seus clientes e o que querem realmente ali. Chopp? Não obrigado. Aceito uma batata recheada, aliás, aceito qualquer coisa. Mas por favor, traga-me algo comestível rápido!
Esperei as outras pessoas pedirem seus pratos. Sim, democracia! Ok! A fome continuara, mas eu não podia me desesperar. Mantive a calma. O ambiente era agradabilíssimo. O som, não muito, o cheiro (arghh) cigarro!
Tenho uma filosofia de vida que, realmente, tenho que parar de pregá-la, parar de comentá-la, parar de, simplesmente, pensar nela. Quando tudo parece perfeito algo de ruim acontece, algo constrangedor. E tudo, sabe com quem? Com a pessoa que vos fala. Circo, palhaço, brincadeiras com o público. Legal! Muuuuito interessante! Vou adorar rir do público. Uma pessoa? Hum, ok! Quem? Eu? Sim caros amigos, eu novamente entrando em cena.
Se de mil atendentes daquele “inútil” correio brasileiro, uma é extremamente incompetente, masca chiclete, comporta um fone no ouvido e atende de maneira marginal e antiprofissional, essa será a minha querida, a minha adorável atendente que fará o meu dia ser simplesmente mais feliz! Presentear-me com roupas e objetos de uma loja a qual passei anos planejando uma compra é perfeito. A menos que, na saída, por um descuido da direção da loja, aquele aparelho idiota detectasse algo nas minhas bolsas que fosse inconveniente ou indevidamente pego. Imagina!
Ver o constrangimento das empregadas da loja se desculpando pelo descuido em liberar a etiqueta dos produtos comprados não tem preço. Ver as centenas de pessoas do shopping me olhando como ladrão tem um preço altíssimo, mas me conformo, ninguém vai pagar. Sim, eu pago, pago muitos, muitos micos.
Apresentação de trabalhos escolares? Aff. Já até me conformei: sempre, sempre acontece algo errado. Um fio, uma chuva que estraga um cartaz, um pôster. Ok, vamos trabalhar com o digital, o moderno, o chique, o “infalível”. Balela! Previsível também são meus estresses, minhas lágrimas, meu desespero. Porque sou assim? Aliás, porque tudo acontece comigo? Lei da atração. Talvez.
E que tal ir num restaurante? Ok, não exijo um restaurante que, em menos de vinte segundos, me agrade com o prato pedido perfeitamente pronto. Mas exijo, acima de tudo, organização. Algo que detesto é ver, na mesma mesa, pessoas comendo e outras esperando. Pode apostar! Esse “outro” que espera faminto sou yo. Esse mesmo sujeito é capaz de ouvir impaciente as conversas, fingir tranqüilidade, suportar o cheiro de cigarro, ouvir as brincadeiras, os comentários sobre a comida, o churrasco preferido, a carne, a batata dos meus sonhos...faltava pouco, pouco, pouco. Quase uma contagem regressiva que, agora, recomeçara. Recomeçar? Tudo outra vez? Dispenso, obrigado. A fome? Coitada, já passou, dormiu durante o falatório. O desejo e a ânsia também se aquietaram. Conformaram-se com a provisoriedade das coisas, com o recomeço do cronômetro que marcava a saída do prato.
Inúteis e incompetentes. São o que são.
Pedido cancelado! Basta!
Batata semi pronta. Recheada, algo que devia estar pujantemente saboroso. Deixei para os reles inúteis e incompetentes comerem num canto da cozinha já que seria inútil guardar aquela batata feita com amor, carinho, dedicação e que (porra!) demorou séculos para ficar pronta.
Tirando esses detalhes quase “ínfimos”. A noite foi ótima, maravilhosa! Gargalhadas, presentes trocados, muita diversão. Hora de voltar pra casa, reencontrar a cama desarrumada, ligar a TV, ligar o computador e, finalmente correr para a cozinha fazer misto-quente porque esse, eu tenho certeza, é infalível e não exige tanto amor e carinho. Um pão com alguma coisa, um fogão aceso e um universitário exagerado já basta.
2:55

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