segunda-feira, 2 de maio de 2011

Rock in Rio? Vá com Deus!


Acho que não somente os sonhos, mas diversas outras ações cotidianas são importantíssimas para denunciar traços marcantes da nossa personalidade. É sempre comum, por exemplo, eu opinar e tomar posições contrárias às da maioria. Taxam-me de estranho, invertebrado, fútil, polêmico. Por isso, às vezes, tenho a sensação de ser uma exceção no todo. Só que adiante percebi que o meu todo era limitado e que exceções existiam em todo o lugar. E mais: elas (as “exceções-humanas” – se é que posso assim denominar) podem criar movimentos, unir e compartilhar opiniões via internet em comunidades virtuais e etc.

E o que isso tem haver com responsabilidade?

Acredito muito no poder dessas “exceções”. As “exceções” geralmente são engajadas em uma causa, são apaixonados pelo trabalho e pela profissão. Acredito que esta seja a resposta para aqueles que primam pela responsabilidade e fazem valer todo o suor do trabalho. As exceções (acredito eu) dão conta do recado porque sabem que se diferem da maioria. São apaixonadas pela carreira e são capazes de falar sobre trabalho em qualquer lugar. Muitas vezes são ainda taxados de tristes. Sim, julgam-nos tristes e solitários apenas por optarmos ficar em casa curtindo um lugar-bucólico-tranquilo e falando ou escrevendo sobre trabalho!

Falar e pensar em trabalho e naquilo que nos retroalimenta não é uma fuga, mas uma opção. Alegria temos sim: e de sobra! Mas liberamos todas as energias num papo agradável, ao som de uma música idem num lugar que, embora não seja o mais agradável, saúda amigos que vão compartilhar contigo desejos de projetos futuros, ambições e histórias engraçadas e emocionantes. Essa, para mim, é a essência da vida.

Perder meu dinheiro, meu tempo e minhas energias numa boate quente ou num show de rock não me deixaria nada, nada feliz. Penso que o tempo deva ser aproveitado com aquilo que você gosta, com aquilo que você curte independentemente se vão lhe considerar um ser humano isolado da humanidade. Ser humano é reconhecer que outras pessoas são movidas por criatividade e uma hiperatividade incomum que emana todos os dias do peito. Aquilo que se chama trabalho também exige muito daquilo que se chama respeito.

Prefiro ver e sentir amigos meus compartilhando comigo uma efervescência de acontecimentos e de projetos do que ligar para um outro conhecido e percebê-lo sempre disponível, vago, louco para que o horário do serviço chegue ao fim.

Não quero, jamais, fazer aqui uma discriminação grosseira quanto aos gostos de cada um. Querer se acabar na bebida num churrasco com amigos não é do meu feitio, mas não posso negar que é uma opção que muitos consideram interessante e fazem disso um ritual sagrado. Feriados e dias de sextas-feiras são dias de prato cheio. Numa empresa, por exemplo, quando o horário de serviço chega ao fim há congestionamento no elevador. As exceções geralmente preferem as escadas. As exceções sempre acham que seus relógios estão adiantados demais, preferem adiantar o serviço, responder os e-mails, enfim. Acredito, portanto, que “as exceções” (ai meu Deus, será que usar essa palavra já é uma certa “discriminação”?) são muitos mais úteis à sociedade que, hoje, carece sim de gente competente e esforçada, que faz muito mais por si e pelos outros tendo, é claro, paixão e prazer naquilo que faz.

Essas minhas impressões me levaram a crer que, aqueles taxados de “exceções”, “estranhos” e “solitários”, possuem um mundo a parte pra explorar. São estas mesmas exceções que no futuro (acredito) ocuparão cargos invejados por cervejeiros, cachaceiros e churrasqueiros. Essa é a minha explicação quanto à responsabilidade. Ela vem da excepcionalidade, do especial, do nu, do estranho, do bizarro, do solitário, do separado, do excluído.

São estas mesmas conclusões que, cada dia, me fazem ter mais pé no chão e força além da gravidade para continuar caminhando, ultrapassando barreiras preconceituosas, rótulos absurdos e críticas monstruosas. Acredito que tudo isso vem da danada da inveja que é forte em alguns sujeitos que percebem, só no final da estrada, o excesso de embriaguez e de tempo perdido a que ficaram sujeitos durante uma longa parte da vida. Sorry! Se somos nós a parte invertebrada da sociedade, carente e que precisa ser incluída, o que nos resta, apenas, é lamentar. O tempo, acredito, existe para ser aproveitado e curtido, sim, mas de maneira responsável e inteligente. E a humilde educação que tive até o momento não me permite considerar inteligente a infantilidade de alguns jovens que chamam de curtição a orgia e a bebedeira desenfreada.

Sou mesmo diferente, pois as tentativas de socialização em farras foram sempre malsucedidas. Acho bebida um saco, o cigarro um porre e, aqueles seres se “auto-destruíndo”, extremamente infantis. Ok. Reconheço: faltou mais um adjetivo dentro do pacote. Além de estranho, fútil, solitário e triste: sou, segundo alguns, careta. Já sofri bastante com muitas das minha posições aqui defendidas. Muitas vezes entristeci-me ao encontrar pessoas que eu admirava fumando e bebendo horrores numa festa. Mas refleti bastante e sei que hoje, uma coisa não exclui a outra. Sei que existem pessoas inteligentíssimas, que sonham, que projetam e que trabalham, mesmo curtindo a vida adoidado nas noites folgadas. O que defendo aqui é apenas a posição e a opção de alguns que preferem ficar em casa curtindo e aproveitando o tempo de outra forma.

E enquanto muitos estarão louquíssimos no Rock in Rio 2011 eu estarei, se Deus quiser, rumo à Bienal do Livro ou num outro evento cultural, ou no cinema, ou com a namorada, ou conersando com os meus amigos. Opção é o que não falta!

Um comentário:

Jussan Silva e Silva disse...

Acredito que quando o se humano se entende como um ser que pensa e vive pela função do outro, a vivência humana torna-se cada vez mais inteligente e harmoniosa. As nossas escolhas pessoais devem ser fundidas em valores, sem dúvida. Mesmas as negativas! A falta do conteúdo que preenche o nosso ser, têm levado os jovens para um caminho tão chato e ao mesmo tempo tão luminoso... é uma sensação estranha. Gozar a vida tornou-se um dever quase que instantâneo e sagaz. Mas enfim, essa luta se esvazia no cair da noite, com a cabeça sobre o travesseiro e quase sempre sozinho. Quando jovens que sabem "curtir" a vida da melhor maneira possível, evidenciando em si o que mais lhe traz prazer, com certeza se vive com mais equilíbrio. Nos últimos anos, tenho percebido um fato curioso; as pessoas que me chamavam de "careta" hoje estão torcendo o nariz ao assistirem minha atuação na sociedade e portanto, na vida. Não que seja melhor que ninguém, não.... mas, o resultado final das escolhas bem feitas sempre é bem frutífero. Não me relaciono com pessoas da minha idade geralmente, são pessoas chatas, sem graça, nada fazem... como se sexo e bebidas fossem as melhores coisas do mundo, são apenas plano de fuga! Privilegio o melhor que a vida têm, sobretudo a luta pessoal de crescer na espiritualidade. Enquanto uns vivem a vida num segundo, prefiro degustar o doce e amargo sabor do dia a dia! Parabéns pelo post!