terça-feira, 3 de maio de 2011

Vamos subir a serra?

Eu estava louco para poder vasculhar, de perto, outros tantos lugares escondidos entre os arvoredos da serra capixaba. Aproveitei o feriado de Tiradentes (21/abril) e pus no carro: Mãe e amigos para subir a serra comigo e conhecer, de perto, os sítios, fazendas, parques e hotéis da região serrana do Espírito Santo. Eu ainda não tinha ido até Domingos Martins na direção, mas a viagem pareceu tranquila e agradável. Já na saída de Castelo (ES) é possível sentir o clima diferenciado. É na chegada de Venda Nova do Imigrante (ES) que nos deparamos com paisagens que já anunciam a predominância naquelas cidades próximas. Algumas cidades da serra capixaba trazem influências culturais dos europeus o que favorece a identificação com os países estrangeiros.


Foi um dia inesquecível porque pude conhecer com liberdade os lugarejos da serra, passar pelo parque da Pedra Azul, almoçar ao som da chuva, depois comer morango como sobremesa, visitar sítios e fazendas, conhecer histórias de pessoas comuns, me encantar com móveis de uma loja de artigos luxuosos, fotografar galinhas, coelhos e paisagens e sentir que o Espírito Santo esconde muitas histórias e lugares maravilhosos que precisam ser conhecidas e reconhecidas pelos próprios capixabas.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um castelo escondido na serra




Pedra Azul coberta pela nuvem


Eu não posso dizer que sou um exímio capixaba. Sendo natural do sul, na cidade de Muqui, era de se esperar que todos os costumes e todas as minhas viagens estivessem muito mais direcionadas para o Rio de Janeiro. O meu conhecimento acerca das realidades do Espírito Santo, confesso, são limitadíssimas.
A primeira vez que cruzei a cidade de Venda Nova do Imigrante rumo à região da Pedra Azul foi em meados de 2009, quando eu e Mariana tivemos a ideia de gravar parte das cenas do nosso filme “A Herança” no Aroso Paço Hotel, uma construção moderna em estilo grego localizada em Domingos Martins. Foi a primeira vez que eu subi a serra capixaba. E foi muito breve. Em apenas um dia gravamos todas as cenas possíveis no hotel e voltamos, no mesmo dia, para Muqui. Tínhamos poucos recursos para gravar um filme de época feito em câmera digital. Uma aventura de jovens amadores cheios de criatividade! Ainda bem que o Aroso nos recebeu da melhor forma possível. O gerente, que tem muita afinidade e gosto por cinema liberou o espaço para as gravações e nos acolheu com uma gentileza invejável.
O fato é que a primeira vez que subi a serra capixaba não foi a passeio, mas há “trabalho”. Conheci apenas o hotel e a vista privilegiada da Pedra Azul.

Depois de dois anos, com o filme pronto, voltamos ao Aroso em 2011 dispostos a exibir a produção para o gerente e o respectivo dono do hotel apenas. A viagem foi mais uma vez breve, mas pudemos sentir, de novo, o clima agradabilíssimo da serra espírito-santense. Elogiados pelo trabalho desempenhado no filme o dono do hotel ofereceu o espaço do Aroso para o respectivo lançamento da obra, além de oferecer estadia, jantar e café da manhã para a equipe do filme durante o evento.

Ficamos extremamente encantados com a hospitalidade e com a forma como nos trataram. Mais ainda: fiquei impressionado em como continuam preservadas as paisagens naturais e arquitetônicas daquele lugar. Como eu poderia estar tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante daquele universo?

Não há nada melhor do que curtir o friosinho do inverno num lugar aconchegante. E pelo pouco que pude observar, a serra capixaba oferece grandes oportunidades para um ótimo passeio e um agradável descanso.




Marcelo, Leandra, Amanda, eu e Mariana (a equipe de trabalho que eu mais amo)


O que fez o melodrama virar cafona?

Mélodrame - Honoré Daumier

(texto produzido especialmente para o portal ASD)

Não. Não sou o maior especialista no assunto. Sou apenas um telespectador. Também sou leigo nos assuntos relacionados à dramaturgia. Minha formação é jornalística o que me permite ter um conhecimento acadêmico muito limitado com relação às novelas. Mas a minha paixão pelo gênero e por roteiro me permite fazer algumas observações sobre o panorama atual da teledramaturgia. Sim. Escrever sobre um universo que conheço pouco é uma ousadia, mas não calarei as minhas observações críticas. Gosto de novela, gosto de teledramaturgia, gosto da produção, da imagem e do roteiro televisivo, e me atreverei, sim, escrever o que tenho pensado sobre o assunto.

Talvez, para algumas pessoas, as minhas opiniões não sejam lá tão relevantes. Principalmente para aquelas que consideram a idade como fator principal. O que um jovem de 19 anos pode dizer, por exemplo, das novelas dos anos 80 e 70? Mas a minha convicção de que a juventude tem grande capacidade de observação e de crítica é plena. Podemos não ter convivido com épocas gloriosas da teledramaturgia brasileira, mas também fazemos parte de uma geração. É uma geração que já nasceu numa era de grandes transformações: telefone celular, internet e televisão em cores.

Muitos dos produtos que nós (jovens) consumimos, ainda na adolescência, foram resultados de grandes evoluções que certamente não acompanhamos. Porém, graças à tecnologia e, também, aos livros e enciclopédias, podemos entender a história, o passo a passo do processo evolutivo e todas as glórias vividas pela televisão. Ainda me lembro da emoção que tive ao descobrir o passado da televisão. A rádio-novela, a novela ao vivo, a transmissão em preto e branco, os estúdios...

Toda essa pesquisa sobre o passado da novela me levou a investigar um tema: o melodrama. Outro dia, numa aula de Rádio-jornalismo, percebi a emoção que era ouvir (e somente ouvir) a conversa entre dois atores, entre o mocinho e a mocinha. Por não oferecer elementos visuais o rádio atraía pelo texto, pela voz. A maioria das cenas emocionavam, os personagens pareciam próximos do público. A rádio-novela permitia no público a imaginação. Você poderia imaginar, à sua maneira, os cenários, o beijo ou a cena de despedida, de tristeza.

O que eu tinha ouvido e sentido na aula de Rádio-jornalismo se contrastou profundamente com as cenas de Insensato Coração que assisti ao chegar em casa. As mocinhas não mais carregam características de santidade, de sofrimento (o que é ótimo), mas deixaram se levar por aspectos triviais do cotidiano. O consumismo é um aspecto tão explorado em Insensato Coração que me incomoda. Há uma quantidade relativa de personagens que só querem o dinheiro, seja por bem ou por mal. É claro que a sociedade que vivemos hoje é marcada por muitos personagens idênticos aos da novela. O que se vê, nas ruas e nos shoppings é uma corrida maluca contra o tempo. As mulheres estão desesperadas por um marido rico, colocando em segundo ou terceiro plano o amor verdadeiro. Sim. Há muitas e muitas mulheres que são assim de fato. Mas não são todas. Outro dia, Dona Maria, dona da pensão onde eu moro aqui em minas me relatou o mesmo incômodo. Está cansada de ver o retrato que a novela Insensato Coração tem feito das mulheres. E não são apenas alguns personagens, mas vários.

Eunice (Débora Evelyn) é um exemplo e Natalie (Deborah Secco) também. Outro dia, num capítulo da semana passada, fiquei bobo de ver como a trilha sonora, a interpretaç ão e o texto favoreceram um melodrama fácil levando o telespectador a sentir pena de Natalie por não ter conseguido continuar com o banqueiro que, nas cenas anteriores, até agrediu a personagem. Eu, que conheço bem os mecanismos de edição, não fui envolvido no melodrama pretendido, mas muitos, tenho certeza, sofreram junto com a personagem. Mas que sofrimento é esse que tem a realização e a ambição financeira como principal responsável? Que imagem estas novelas farão da sociedade?

Não quero defender que uma novela seja, integralmente, o retrato de uma sociedade igualitária, de uma sociedade somente do bem, com pessoas que só querem o amor e a paz (o que seríamos e nós, por exemplo, sem os adoráveis vilões?). O que quero discutir é a utilização exacerbada de um tema que tomou um grande lugar na novela com direito a trilha sonora emotiva e texto melodramático. Pra que tanta ênfase no sofrimento de pessoas que querem tanto subir da classe C para a B, ou da classe B para A? Será que isto faz parte de um jogo político para que a população seja, cada vez mais, estimulada a alcançar sempre mais dinheiro e status, não importa o que faça? Será que esta é a maneira utilizada pelo autor para tentar transformar a novela num retrato do estágio “em desenvolvimento” do nosso país? Seria este o retrato de “desenvolvimento” do nosso país? Será que a novela, hoje, tem mesmo este poder de estimular as pessoas?

O fato é que já não se vêem melodramas como os que Honoré Daumier retratou em sua obra Mélodrame, onde há a representação típica de uma cena parisiense como ocorria na Boulevard du Temple. Há perdas que favoreceram e que desfavoreceram a teledramaturgia. Já não se vê, por exemplo, o engajamento e o interesse tão forte do telespectador à obra, como o constatado na pintura de Daumier. Alguma coisa tem que acontecer para quebrar o marasmo que temos vivido na faixa nobre das novelas.

O que tenho reparado é a sucessão de novelas que surgem tão preocupadas com grandes cenas, com grandes cenários, figurinos e merchandising, que se esquecem das próprias relações humanas que, é claro, não são essencialmente boas, mas que, também não são, essencialmente consumistas. A realidade brasileira se perdeu em meio aos passaportes dos diretores que atravessam o Atlântico buscando, lá fora, inspirações e cenários internacionais para suas novelas, tentando transmitir um retrato de uma civilização nobre e primeiromundista.

A novela estréia com um tapa na cara no telespectador. São tantas imagens deslumbrantes e invejáveis que a novela parece dizer: “Vejam aí seus Zé ruelas! É assim que temos que ser!”. Mas acredito que o efeito tenha sido outro. As pessoas deixam de entrar na realidade brasileira, em suas próprias riquezas do cotidiano (sim, riquezas! O nosso vocabulário, as nossas histórias, os nossos conflitos!) para se sacrificarem e sacrificarem seus bolsos numa viagem internacional como as da novela.

Acho que antes de querer exibir aquilo que nós podemos ser ou aquilo que talvez nunca seremos (uma civilização a la européia), a novela devia mostrar aquilo que somos de uma maneira bem humorada, sensual, inteligente e dinâmica. A realidade se perdeu em meio aos figurinos da Prada, Dior e Calvin Klein. A realidade se perdeu em meio aos efeitos cenográficos que não permitem que uma casa de pobre seja, de fato, uma casa de pobre.

A busca pelo lucro e pelo status é vista em “Insensato” como algo fundamental. Tanto que até a trilha sonora utilizada favorece a interpretação. Nas cenas em que Natalie se entristece por querer continuar com o banqueiro rico (não por amor, mas por dinheiro e por tudo o que ele seria capaz de lhe proporcionar socialmente), a trilha sonora era a mais comovente possível.

Outros personagens do mesmo folhetim poderiam dar um exemplo de vida muito maior do que, até então, já deram. A personagem Bibi, vivida brilhantemente pela atriz Maria Clara Gueiros, embora seja bem sucedida financeiramente, não possui uma profissão específica e, a todo o momento, demonstra um interesse sexual nos rapazes fora do comum. Este comportamento, seguido de cenas, estupidamente frívolas, tipificam um personagem bem humorado, mas que, num contexto mais amplo, não possui nenhum outro desdobramento. Ou seja, embora sua personagem tenha cenas com o pai, com a prima e com a avó, sua personagem não tem outras preocupações importantes na vida. Uma ótima maneira do autor aproveitar esta personagem para um verdadeiro drama, capaz, até, de comover os telespectadores, era fragilizar a personagem através de uma doença chamada AIDS. Só assim, acredito, sua personagem teria um significado maior.

Acredito que o melodrama deve se reinventar. As novelas não trazem novidade. Cada chamada de novela nova reascende uma esperança de surpresa. Mas até quando essa chama suportará? Será qua que ainda haverá novela capaz de recuperar o tempo perdido? Será que a novela tem sempre que ter novidade ou já criou-se um modelo em que as novelas se enquadram numa diagramação visual padrão?

As novelas antigas, segundo os relatos de avós e tios, foram boas, excelentes. Ponto. Novela nova é novela nova e elas não precisam, necessariamente, carregar características das novelas antigas para atraírem novamente o público. Novela nova não exige grandes espetáculos, como bem comentou Marcos Silvério. A gente não quer pirotecnia! Tenho saudade de personagens com personalidade própria, dos personagens misteriosos que apareciam nas novelas despertando curiosidade e suspense. O “Cadeirudo”, por exemplo, me deixou saudades. Na época em que era apresentado na novela “A indomada”, eu era uma criança, mas adorava esperar as cenas em que o personagem aparecia, despertando a minha curiosidade.

Outro personagem mais recente, foi o “Sufocador” em Duas Caras, que pôde proporcionar cenas de suspense e, algumas até, de comédia. Personagens como esses dinamizam a história, criando mecanismos de interação entre o público e os outros personagens da trama. O famoso “quem matou”, utilizado com demasia em algumas novelas, já teve seu auge, mas hoje é um clichê que, se usado, talvez seja a maneira mais fácil de assumir a falta de criatividade na novela.

Acredito que o público não queira também , novelas que deixam tudo para o último capítulo. Queremos uma última semana inteira de adrenalina, de emoção. O último capítulo é apenas um primeiro capítulo invertido, que cumpre o papel simples de finalizar uma obra. E a finalização da obra não precisa ser necessariamente um espetáculo. Embora importante o ponto final é apenas um detalhe. Qualquer um aprendiz e aspirante a roteirista consegueria por fim numa trama. O principal é o desenvolvimento. O autor deve ter a maestria de adolescer a obra, de causar frisson ao longo da semana.

Embora superproduzidos, não queremos remakes, nem tam pouco encontrar personagens de novelas antigas em novelas novas, como foi o caso do “Jamanta” em Belíssima. Também não queremos novelas tão genéricas, que falam de tudo e de todos ao mesmo tempo. Se invertermos, por exemplo, o nome de “Viver a vida” por “Páginas da vida”, e vice-versa, não haveria nenhuma mudança drástica de sentido no contexto. Eu ainda acredito no gosto do telespectador, o que me permite afirmar com franqueza que o que a gente mais detesta é ser passado para trás. Não queremos ser público de espetáculos repetidos. Os profissionais são bem pagos para produzirem obras diferentes, com engajamentos sociais na realidade brasileira, criando personagens com a cara do povo ou com a cara da elite, mas responsáveis pela emoção do público.

Alguém aí tem saco para ir à missa?


Ah, como é bom rever os amigos! Principalmente aqueles que a gente gosta de conversar sobre projetos e trabalho. Fui à missa na cidade natal como ritual de cristão-católico que sou, herança de uma família religiosíssima. Mas, definitivamente, a igreja não é o melhor lugar pra eu rezar. Olho para os candelabros do teto, para os quadros da capela, para os vitrais da janela, para a sujeira no canto da porta, para os santos esculpidos do altar, para os insetos que pairam nas flores, mas não consigo ter concentração alguma para ouvir as palavras da missa. Meu Deus! Que pecado! Será? Será pecado demais ter mais paciência de orar recluso? Na cama? Antes de dormir? Será pecado querer sempre bem aos outros (muito mais até do que ferrenhos católicos), porém ter pouca paciência para orar repetitivamente numa igreja lotada?

É sempre assim: em casa, às vezes, há momentos sem inspiração. Mas na missa ou em qualquer outro lugar que seja em que o silêncio é regra básica, pronto! Surgem mil ideias! E o que a gente menos pode fazer nestes locais é se movimentar.

Muito me incomoda ficar parado ou em silêncio por muito tempo. Pensar sem falar e, principalmente, sem escrever é perturbador. Graças a Deus inventaram o celular onde a gente pode escrever os pensamentos e arquivar. Ai de mim sem um rascunho de papel e um lápis escondido no fundo do bolso da calça! Seria refém de uma missa monótona, numa cidade tradicional.

Na missa de ontem encontrei com um amigo. Ele faz Direito no Rio e também havia vindo para a cidade natal durante este feriado. (É este mesmo amigo que gravou comigo aquele vídeo que fiz pro ASD - Aguinaldo Silva Digital (site)). Conversamos sobre tudo na missa, desde política e orçamento de projetos que estamos inscrevendo em editais (sim, dependemos de editais!) até o preço de uma trufa de maracujá da Cacau Show. No final dissemos:

- Deus nos perdoe!

E tenho certeza absoluta que perdoará, pois o Deus (que eu acredito existir) é muito complacente e entende, perfeitamente, as nossas inquietudes. Sabe muito bem que estamos sonhando e pensando o melhor pra nós e para os outros que, como nós, anseiam ser mais do que um ser humano comum nessa terra. Sabe que a amizade e que a união de ideias e projetos podem, sim, fazer a diferença nesse mundo tão excludente e injusto.

Que Deus nos abençoe!

Amém!

Rock in Rio? Vá com Deus!


Acho que não somente os sonhos, mas diversas outras ações cotidianas são importantíssimas para denunciar traços marcantes da nossa personalidade. É sempre comum, por exemplo, eu opinar e tomar posições contrárias às da maioria. Taxam-me de estranho, invertebrado, fútil, polêmico. Por isso, às vezes, tenho a sensação de ser uma exceção no todo. Só que adiante percebi que o meu todo era limitado e que exceções existiam em todo o lugar. E mais: elas (as “exceções-humanas” – se é que posso assim denominar) podem criar movimentos, unir e compartilhar opiniões via internet em comunidades virtuais e etc.

E o que isso tem haver com responsabilidade?

Acredito muito no poder dessas “exceções”. As “exceções” geralmente são engajadas em uma causa, são apaixonados pelo trabalho e pela profissão. Acredito que esta seja a resposta para aqueles que primam pela responsabilidade e fazem valer todo o suor do trabalho. As exceções (acredito eu) dão conta do recado porque sabem que se diferem da maioria. São apaixonadas pela carreira e são capazes de falar sobre trabalho em qualquer lugar. Muitas vezes são ainda taxados de tristes. Sim, julgam-nos tristes e solitários apenas por optarmos ficar em casa curtindo um lugar-bucólico-tranquilo e falando ou escrevendo sobre trabalho!

Falar e pensar em trabalho e naquilo que nos retroalimenta não é uma fuga, mas uma opção. Alegria temos sim: e de sobra! Mas liberamos todas as energias num papo agradável, ao som de uma música idem num lugar que, embora não seja o mais agradável, saúda amigos que vão compartilhar contigo desejos de projetos futuros, ambições e histórias engraçadas e emocionantes. Essa, para mim, é a essência da vida.

Perder meu dinheiro, meu tempo e minhas energias numa boate quente ou num show de rock não me deixaria nada, nada feliz. Penso que o tempo deva ser aproveitado com aquilo que você gosta, com aquilo que você curte independentemente se vão lhe considerar um ser humano isolado da humanidade. Ser humano é reconhecer que outras pessoas são movidas por criatividade e uma hiperatividade incomum que emana todos os dias do peito. Aquilo que se chama trabalho também exige muito daquilo que se chama respeito.

Prefiro ver e sentir amigos meus compartilhando comigo uma efervescência de acontecimentos e de projetos do que ligar para um outro conhecido e percebê-lo sempre disponível, vago, louco para que o horário do serviço chegue ao fim.

Não quero, jamais, fazer aqui uma discriminação grosseira quanto aos gostos de cada um. Querer se acabar na bebida num churrasco com amigos não é do meu feitio, mas não posso negar que é uma opção que muitos consideram interessante e fazem disso um ritual sagrado. Feriados e dias de sextas-feiras são dias de prato cheio. Numa empresa, por exemplo, quando o horário de serviço chega ao fim há congestionamento no elevador. As exceções geralmente preferem as escadas. As exceções sempre acham que seus relógios estão adiantados demais, preferem adiantar o serviço, responder os e-mails, enfim. Acredito, portanto, que “as exceções” (ai meu Deus, será que usar essa palavra já é uma certa “discriminação”?) são muitos mais úteis à sociedade que, hoje, carece sim de gente competente e esforçada, que faz muito mais por si e pelos outros tendo, é claro, paixão e prazer naquilo que faz.

Essas minhas impressões me levaram a crer que, aqueles taxados de “exceções”, “estranhos” e “solitários”, possuem um mundo a parte pra explorar. São estas mesmas exceções que no futuro (acredito) ocuparão cargos invejados por cervejeiros, cachaceiros e churrasqueiros. Essa é a minha explicação quanto à responsabilidade. Ela vem da excepcionalidade, do especial, do nu, do estranho, do bizarro, do solitário, do separado, do excluído.

São estas mesmas conclusões que, cada dia, me fazem ter mais pé no chão e força além da gravidade para continuar caminhando, ultrapassando barreiras preconceituosas, rótulos absurdos e críticas monstruosas. Acredito que tudo isso vem da danada da inveja que é forte em alguns sujeitos que percebem, só no final da estrada, o excesso de embriaguez e de tempo perdido a que ficaram sujeitos durante uma longa parte da vida. Sorry! Se somos nós a parte invertebrada da sociedade, carente e que precisa ser incluída, o que nos resta, apenas, é lamentar. O tempo, acredito, existe para ser aproveitado e curtido, sim, mas de maneira responsável e inteligente. E a humilde educação que tive até o momento não me permite considerar inteligente a infantilidade de alguns jovens que chamam de curtição a orgia e a bebedeira desenfreada.

Sou mesmo diferente, pois as tentativas de socialização em farras foram sempre malsucedidas. Acho bebida um saco, o cigarro um porre e, aqueles seres se “auto-destruíndo”, extremamente infantis. Ok. Reconheço: faltou mais um adjetivo dentro do pacote. Além de estranho, fútil, solitário e triste: sou, segundo alguns, careta. Já sofri bastante com muitas das minha posições aqui defendidas. Muitas vezes entristeci-me ao encontrar pessoas que eu admirava fumando e bebendo horrores numa festa. Mas refleti bastante e sei que hoje, uma coisa não exclui a outra. Sei que existem pessoas inteligentíssimas, que sonham, que projetam e que trabalham, mesmo curtindo a vida adoidado nas noites folgadas. O que defendo aqui é apenas a posição e a opção de alguns que preferem ficar em casa curtindo e aproveitando o tempo de outra forma.

E enquanto muitos estarão louquíssimos no Rock in Rio 2011 eu estarei, se Deus quiser, rumo à Bienal do Livro ou num outro evento cultural, ou no cinema, ou com a namorada, ou conersando com os meus amigos. Opção é o que não falta!