sábado, 21 de março de 2009

Dois em um!


Na minha fase adolescente, costumava sair pouco. Adorava (adoro) livros, televisão,.. ficar em casa para mim era primordial. Assistir filme, estudar e ficar inventando mil e umas coisas dentro de casa e ouvindo sermões e amores de minha avó eram as coisas que eu mais gostava de fazer quando tinha lá meus 13, 14, 15...anos!Não que eu seja tão velho - até porque muita gente acha que ainda tenho cara de 15 ! – mas é que, há uns anos atrás eu era o amigo-caseiro que ninguém queria ter. Tinha sim uns ou outros colegas, amigos sim, perseverantes, porém poucos.
Apesar das notas em provas serem boas, excelentes, enfim, tinha alguns amigos – colegas – movidos pelo interesse. Procuravam-me na hora das provas, me pediam ‘cola’... Eu tinha aqueles amigos ‘de rua’. Aqueles amigos que sempre querem fazer uma bagunça no logradouro, movimentar tudo, mover o mundo!
Apesar de tudo isso, eu ainda preferia ficar em casa muitas vezes. Quantos carnavais passei em casa...quantas viradas de ano, natal...! O lar para mim era um lugar sagrado – e ainda é. E isso foi se repetindo...repetindo... Podia estar em casa triste, mas era uma tristeza que eu gostava. Não me sentia bem em lugares públicos, exposto à tudo e à todos. Muitas vezes deixei o ‘público’ me esperando para falar no microfone, sumia de repente em festas, tinha pavor de me apresentar, me explicar...triste sina para uma pessoa que, hoje, quer ser jornalista.! E mesmo assim, quando era obrigado à ir a eventos grandes e recepções na casa de parentes – sim, até de parentes eu tenho vergonha e, assumo, até hoje sofro com isso – eu não via o momento único de chegar em casa. Eu podia não ter absolutamente nada para fazer no ‘querido lar’, mas adorava ficar lá. No meu canto, no meu mundo.
E eu podia estar no meu quarto, na sala ou em qualquer cômodo da casa... o barulho de rua, bagunça... não me incomodava. Até me fazia bem. Saber que não estou acordado sozinho e que havia movimento lá fora me fazia bem. Mas, que fique bem claro, era eles lá e eu aqui, divididos pela parede, entre janelas. Sozinho.
Eu até podia ter sofrido com isso. Poderia ter me tornado um menino incompreendido, ter depressão! Mas era aquilo que eu amava: Ficar sozinho, isolado. Não me faltava amor, não me faltava nada! Mas eu preferia ficar em casa! Era uma opção minha!
Tentei, inutilmente, freqüentar a rua de vez em quando, mas eu não via sentido ficar lá, sem nada para fazer. Sentar, comer, conversar com os amigos? E daí batia a solidão: cadê os amigos? As conversas?
Conheço uma pessoa que deve sofrer com isso. Muitas vezes quando o vejo na rua tomo um susto. Ela não sabe se comportar “em sociedade” e, na impossibilidade de ser natural, acaba simulando situações, falando como se fosse um outro personagem, faz ceninha, não sabe onde por a mão, fica sem jeito, tropeça, pede perdão às pessoas quando esbarra nelas (okay, isso se chama educação, beleza!), enfim...tentava fazer um ‘social’, tentava ser outra pessoa para, simplesmente agradar as outras pessoas. Escondia-se atrás de si mesmo. E eu o conhecia bem. Sabia que em casa ele era outra pessoa. Falava diferente, tinha outros tipos de movimento, era, simplesmente, ele!... Ainda bem que não cheguei à esse ponto. Assumia que não gostava de movimento e ponto. Não gostava de balada, rua... enfim!
Porém o tempo foi passando e, não sei como, mas fui, devagar, conhecendo outras pessoas, outros seres, outros lugares. Passei a ir na rua, ver gente, conversar normalmente. Assumo que, ainda sou muito atrapalhado, passo por umas situações constrangedoras, ás vezes. Sou tímido, mas muita gente não entende. Quem me conhece sabe que tenho dois lados e que ser tímido, faz parte de somente um deles.
Por incrível que pareça, essa herança da minha infância-adolescência eu vou carregar pra vida toda.Porém, quando estou num evento festivo ou num lugar dançante, começo a ‘me alegrar’ um pouco e me divertir muito. Daí, aqueles que conheciam o Léo caseiro, menino bobo e atrapalhado e que só tinha talento e nada mais, passavam a tomar um susto quando me viam lá: ‘alegre’, vivendo e levando a vida como qualquer outra pessoa ‘normal’.Prova viva foi quando, certa vez, conheci uma menina numa noite noite de forró (Eu? No forró? Que mudança!). Eu tava um pouco alegre, mas consegui me apresentar e ainda arrisquei perguntar o que ela ia fazer da vida (eu sei que isso era um pouco impróprio, mas minha sina (na falta de coisa melhor) perguntar o que as pessoas iam fazer no vestibular). A menina disse que faria jornalismo e eu, simplesmente gritei que também faria. E ainda perguntei:
___Está estudando?
___Muito!
___Eu não estou estudando nada!
___Pois é. Sua vaga será minha!
Pode ter sido brincadeira, mas o meu grau de alegria naquele momento diminuiu. Até porque eu estava bem triste com coisas relacionadas à vestibular. Eu podia estar na melhor escola do estado, mas naquela época não estava estudando direito, envolvido com outras coisas, outros assuntos, não estudava em casa!E isso me deixou meio “pra baixo” aquela noite. O fato é que ainda disse assim:
___Entra no meu blog!
___Com certeza!
___Te passo depois! - eu disse.
Bom, ela não devia ter posto nenhuma confiança em mim. Blog? Ela não devia acreditar que um ‘maluco’ como eu pudesse escrever alguma coisa. Ela ficava lá, com aquela cara de jornalista séria, num lugar barulhento.Pós forró, tratei de encontra-la na internet e enviar o link do blog. Depois de ter lido um ou outro texto, ela não acreditava que eu era o mesmo menino do ‘forró’. No mesmo instante conclui que existem duas pessoas em mim. Nem sempre temos que representar aquilo que seremos futuramente, num lugar onde aquilo que seremos futuramente é o que menos importa!
De fato, passei a me expressar melhor, ter visibilidade. Microfone? Bom, embora ainda o estranhe, passei a tê-lo como amigo. Falei de mais nos últimos dias... e ele me ajudou em alguns momentos, confesso. Meu problema (ou não) é que depois que passei a estar mais “em sociedade’ passei a notar várias ‘falhas no sistema’. Coisas que, para mim, são erros absurdos, muita ignorância em alguns, falta de ignorância de outros. Não generalizo, mas há, em qualquer sociedade que se viva, muita burocracia, muito preconceito, muito... muito...
Muitas vezes penso em fazer um flash-back nesse filme que é a minha vida. Voltar aos meus 14, 15 anos e rever à que sociedade pertenço, mas tendo consciência de que nenhuma sociedade é perfeita. Nem aquela que existe no nosso imaginário é completa: 100% feliz e saudável.
Mas confesso que, depois que passei a me relacionar mais, ter mais amigos, amigas e colegas, me tornei uma pessoa até mais criativa. Penso mais, tenho várias opiniões sobre determinado assunto. Ouço comentários sobre meu trabalho, críticas e elogios. Leque de amigos, rede de colegas! E isso vai ser e está sendo extremamente importante para mim. Para um ser humano que quer ser jornalista é extremamente importante tecer um bom diálogo, falar com todo tipo de pessoa, se infiltrar em ‘qualquer sociedade’, ouvir comentários, várias opiniões e esquecer da bolha do eu, do infinito particular que é tão necessário, mas que, em certos casos, deve ser esquecido para tornar o trabalho mais real (não que o infinito particular seja fictício), mas o torna mais abrangente, atinge outras camadas, agrada a maioria.E pra ser bem sucedido, hoje, é necessário atingir a maioria, ser maioria, ter a maioria a seu favor. É só ali: no meio do povo, no meio da sociedade e enfrentando todo e qualquer tipo de problema que se pode realizar um trabalho que os atinja de modo a causar frenesi e, por que não, indignação. E com o passar do tempo fui percebendo que aquela profissão surrealista era mesmo aquilo que eu queria para mim, era o meu início – até porque não penso em cursar somente jornalismo.
E o tempo que eu precisava para conhecer as pessoas, os olhares, um amor forte...eu ganhei com a reprovação no vestibular. Porém, quero deixar claro que ainda não conheço tudo. Não conheço todos os povos, todas as indignações, todos os costumes, regiões, países e municípios brasileiros e não-brasileiros. Não conheço o todo, a massa, o leite e a nata social brasileira. O que relato, são apenas pequenas experiências vivenciadas numa cidade do meio urbano-rural, do sul do Espírito Santo que, embora não queira, aparenta, sim, uma divisão de classes e costumes bem visível.
E tudo foi importante para mim. As experiências, o meu mundo fechado e infantil, minha herança, meu passado precioso. Tudo foi necessário para formar a pessoa pensante que sou, capaz de relatar tudo o que vê e sente. Meu passado, meu infinito particular que me fizera tão feliz, hoje se torna meu flash back preferido. Parte da minha história, parte de um outro eu.
Se dizem que eu mudei? Não! Nunca! Sou apenas o mesmo de sempre. O menino calado, que às vezes fala demais. O menino observador, que escreve demais. O menino sério, que se ‘alegra’ demais. O menino caseiro, que sai demais. O menino fechado, mas que ganha (ou perde) uma amizade fácil. O menino que chora, mas que brinca, sorri e faz loucuras como qualquer outra pessoa feliz. O menino magro, que come demais. O menino que anda e cai demais. O menino que clama, ora e canta demais. Esse menino, esse rapaz...
E ainda bem que comecei a fazer novas amizades, passei a sair. Imaginou se eu continuasse aquele menino caseiro – eu ainda sou muito, muito, muito caseiro! – o que teria acontecido comigo? Talvez eu perdesse todos aqueles amigos ‘de rua’, por que esses também passaram a se relacionar mais, talvez meu infinito particular fosse meu único amigo, talvez fosse a pessoa mais triste, mais infeliz, talvez passasse no vestibular, mas o que adiantaria? O que seria sem meus amigos? Sem essa sociedade que, apesar de tudo, me inspira e me faz ter espírito crítico? Aliás, agradeço muito à ela, pois é a responsável pelos meus textos, gera dúvidas, faz minha cabeça funcionar, maquinar, pipocar e quase estourar!
E fico assim, deixo assim, vivo assim. Fazendo o mundo, pessoas e sentimentos se tornarem fontes inesgotavelmente criativas para o meu conhecimento particular. Se tornarem experiência, se tornarem eu! Deixo que me envolvam, deixo que tomem conta de mim desde que eu, com qualquer potencialidade de observação, anote tudo, canalize tudo e forme a minha opinião.
E podem nos chamar de estranhos, insociáveis ou sociáveis até demais. Só não podemos deixar de sermos experiência, causarmos experiência. Ela sim, é e será a nossa herança eterna, aquilo que a gente vai levar para a vida toda.

"Aceita o conselho dos outros, mas nunca desista da tua própria opinião." (William Shakespeare)

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