quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ela estava lá.


...e você estava lá. Cercada de gente. Mas eu só via você. Só via aquela garota de chinelinho rasteiro tomando aquela fanta uva gelada. Só via aquela menina que, de longe ou de perto, olhava pra mim com o mesmo sorriso, com o mesmo olhar. Ah! E aquele olhar? Meio perdido, meio bandido, meio não dizer nada, meio dizer tudo. Eu fiquei lá, tentando entender os olhares, olhando os braços vermelhos e tentando adivinhar e supor idéias, pensamentos e situações futuras. Tentei me expor, percebi que não era preciso. Aquela garota estava em evidência, era o assunto, o título e o problema, a hora e os segundos que passavam sem parar.Senti enorme vontade de fazer o “possível”, fazer o “não-obvio” e, talvez o “nada a ver”. Tentei desmistificar certas coisas, quebrar certos paradigmas e sugar o sangue que corria quente em mim. Eu só via ela, e via nela a solução dos meus problemas, aquele porto seguro, aquela suposta resposta para as minhas perguntas. Ela implicava comigo. Implicava com nariz e com fotos.
Na verdade ela me inspirava, me fazia rir por vontade. Me fazia sentir mais homem e intimidado, me fazia chorar, às vezes. Eu a sentia em qualquer lugar, a sentia, até mesmo no silêncio virtual, nas reticências e nos “etc”. Eu não sei se me feri, se me cortei e se confundi sentimentos...Não sei se perdi as peças do meu quebra-cabeça, se vi peças e brinquedos onde, realmente, não existiam.Sei de nada, sei de tudo. Sei de versos e de musica, sei meu mundo, sei nem tudo.
E confesso que, às vezes, penso em fugir, penso em me abandonar e me entregar à lua, ao sol e ver, no brilho delas, as minhas respostas tão esperadas. Na verdade não quero mais respostas. Quero rever aquela garota do início do texto. Aquele vestido roxo, com listras brancas (ou seria branco com listras roxas?) e que tanto me causa uma confusão gostosa, uma sensação “bacana”, a vontade de estar bem próximo ou bem longe. Que tanto me traz mais perguntas. E se é essa a minha sina, que seja pra sempre. Serei um eterno ponto de interrogação, buscando respostas e sentimentos vagabundos, corações largados e perdidos, sentimentos bobos e iludidos. Se for pra ser assim, que seja!Não serei único, não somos únicos. Somos vários, somos mais que dois ou três. Somos 10, 20, 40, 60! Somos mil e um, somos dez mil cabeças buscando vidas e flagelos. Buscando saciar nossos medos...
E ela estava lá, frente à brisa, frente ao mar...estava só, ela estava.Seus olhos brilhavam, queriam saltar. Ela estava lá, parecia quieta, parecia fria. Mas eu a vi, a senti e me vi nela. Me vi no reflexo do óculos, por que não, me vi na sua vontade imensa e nos medos que queriam ultrapassar aquelas barreiras imensas que as vezes nos fazia chorar. E chorar? A vi sim, chorado, mesmo tentando esconder, a vi chorar por segundos, mas foi mágico, foi eterno e será belo pra sempre.
E eu já me surpreendi com ela e confesso que tive certas “decepções”.No fundo, no fundo, foram decepções boas. Me fizeram perceber que anjos nem sempre aparecem com asas. Que anjos e mulheres podem xingar, podem falar alto, podem bater, podem beber e podem, até, não comer. Aprendi que é, de fato, importante conhecer pessoas e saber ouvi-las, ouvir voz, ouvir aquilo que pode ser bobo, mas é próprio. Sinto que estou chegando perto das minhas respostas. Como posso responder minhas perguntas se não conheço as dúvidas dela? As dúvidas dos outros! Como posso seguir em frente sem sentir aquilo de mais humano que havia naquele anjo que eu tanto amava, e amo. Eu não podia dormir sem escrever isso. Sem deixar aqui o meu medo em não ouvir mais as pessoas e vê-las sofrer por conta de um sentimento preso. Eu não posso me tornar a evidência e menosprezar sentimentos alheios, sem ouvir os meus anjos!Eu podia subir no telhado e gritar, eu podia ter o maior ouvido do mundo...mas não escutaria ninguém nunca.Eu estava cego, surdo, mas não mudo. Eu falava e jogava pra fora sem perceber que esse “fora” não era algo sólido e só.Esse “fora” envolviam pessoas, envolviam seres humanos que estavam ali, me ouvindo!Eu precisava ter paciência, eu precisava ter discernimento e vontade de caminhar ouvindo sempre pessoas ao meu redor. Por que não as ouvi, por que não as senti?
Eu sentia algo doce vindo dela, algo tão angelical e decente.Eu via um modelo, uma mulher. Surpreendi-me muitas vezes quando assistia, de camarote, certas cenas bobas, certos momentos e detalhes que eu sentia, via e ficava horas em silêncio tentando assimilar aquela nova característica pessoal que eu não conhecia. Na verdade vivo num eterno conhecimento. Eu nunca sei o 100%. Nem tudo é válido, nem tudo é inválido. São gestos, ações e sentimentos que me faziam construir um personagem, algo inacessível, algo longe e irreal, algo impalpável e descrente. Algo pesado e inocente. Algo burro. Sim! Eu era burro e buscava respostas burras para milhões e bilhões de perguntas burras, na verdade idiotas. Idiota? Sim, fui, estou sendo e vou ser um eterno idiota, um eterno aprendiz, um autor de crônicas idiotas que se refazem e se desfazem ao mesmo tempo. Vivo assim, nessa minha construção de personagens que não existem! Eu passei a perceber o quão bom é admirar, sentir e perceber detalhes, certas cenas orgânicas e inorgânicas de pessoas, de anjos-demônios, certas comédias e certos dramas. Passei a confrontar com novas visões, novos parâmetros e percebi que, na verdade, não podia desenhar e redesenhar personagens. Na verdade eu nem tinha poder pra isso. Somos todos construtores dos nossos papéis, das nossas ações, dos nossos desejos e anseios, dos nossos personagens mais íntimos. Só nós sabemos dos nossos sonhos, dos nossos defeitos e dos nossos perfeitos absurdos espirituais e não-espirituais. Somos autores de nossa cadeia fictícia de personagens, de ciclos de amizade, de corações...Somos pó e somos cinza. Somos ossos e carne, nada mais! Somos seres humanos que sentem, que se refazem e que encontram no outro aquilo que verdadeiramente o completa, que o transforma numa máquina de perguntas que, na verdade, não podem ser respondidas. São perguntas lacradas, mudas e sem respostas. Viver talvez seja a resposta mais fiel a todas aquelas perguntas pertinentes. Viver é sim o grande quebra-cabeça que movimenta o amor, a fantasia de viver cercado de anjos, pessoas e personagens.
Eu olho pro relógio e fico tentando imaginar ela lá, deitada, sonhando, talvez não. Eu a imagino lá. Pé na parede, som no ouvido, tempo distante, voz quieta, coração abandonado, muita coisa pra dizer ou não.Ela estava lá, nem tão distante, nem tão perto. Inconstante, nunca inconveniente. Sempre ali, sempre aquela imagem, sempre aqueles olhos, sempre aquela voz, aquela voz. E eu vou sentir isso pra sempre. Mesmo em pedaços, mesmo morto, mesmo não aqui mesmo lá e cá. E eu vou ouvir sempre, vou ler sempre e me reconstruir sempre. Obrigado por estar aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

E sempre estarei...

O que me completa.
Identifica.
Esclarece.
Amedronta.
Aconchega
Alegra.
Esse presente se tornou minha resposta.
Obrigada sempre!

Te amo.