domingo, 28 de dezembro de 2008

Oh! Árvore!

Era dia, já havia passado natal. Eu estava lá, com o mesmo cobertor, o mesmo travesseiro. Estava eu lá deitado e com preguiça da vida. Olhei pro mundo lá fora. A janela estava aberta. Vi a chuva. Levantei da cama ainda com sono e fui rumo a porta. No caminho ouço frases e comentários.

“Ah! Seu Jorge! Foi a árvore. Num é que caiu?”...

Árvore?
Era a voz de vovó que, da varanda, fazia questão de comunicar todo mundo que passava na rua que a árvore em frente de casa havia caído. Não dei importância e continuei perambulando pela casa. Tomei um leite e fui até a varanda conferir o que de veras teria ocorrido naquela dada madrugada. Vovó repetia as mesmas frases. Havia chovido muito, realmente.

Lembro muito da minha infância, lembro tanto das brincadeiras e dos desejos tão ilusórios e utópicos de criança. Das padarias, das esquinas, das pessoas, dos sorrisos quentes em dias frios, das caricaturas, dos desenhos animados e das travessuras, das farras, comidas, doces, balas, das leituras, das ruas, do rio e... das árvores!

Olhei atentamente aquela árvore caída no rio.. (sim, em frente a minha casa ainda tem um rio).Ela estava morta, clamando seus últimos minutos de vida. Gritando de dor, chorando por dentro. Lembrei-me, no mesmo instante, daqueles momentos infantis, das brincadeiras em torno daquela árvore. Dos valores, dos medos, angústias e dos sonhos coletivos. Pensei em chorar, mas acabei dando gargalhadas aos montes. É! Eu sei! Uma árvore morta, sentimentos e passado... era para eu estar chorando e demonstrando todo o meu sentimento saudosista, lembrando daquela minha fase em que ditava preservação ecológica, mas não! Estava lá eu, sentado na beira do rio, a árvore esfacelada em raízes para todos os lados e as minhas gargalhadas obesas.

Eu lembrava das nossas ilusões, das nossas brigas, das nossas conversas. Aquela árvore marcava minha infância, tudo acontecia em torno dela. A morte dela parecia a representação mais fiel do fim da minha infância. Talvez seja isso: uma prova de que aquelas ilusões, aqueles desejos e brincadeiras hoje não existem mais e, aquelas crianças tão sonhadoras, brincalhonas e verdes, hoje já estão maduras.

Senti, sim, uma vontade imensa de juntar as raízes e por aquela árvore no lugar novamente, mas de nada valeria. Faltariam os sonhos, os desejos e as pessoas. Faltaria o sentimento, faltaria carne, osso, faltariam pessoas que hoje tenho tanta saudade. Faltariam sonhos, faltariam gargalhadas, faltaria comédia e pesadelo.

Aquela árvore representava, pra mim, nada mais nada menos, que uma maneira imbecil de representar aquelas minhas manias infantis, uma forma boba de ver representatividade em tudo. Eu tinha que olhar aquela árvore e ver algo animalesco? Eu teria que imaginar representações e lembrar do passado? E por que eu? Ninguém mais faz isso. Por que eu?Por que eu tinha que olhar aquilo, lembrar das coisas e ficar imaginando situações sem pé nem cabeça? Por que eu dei vida àquela árvore mesmo ela já estando morta? Por que transformei a árvore-cadáver num personagem não-fictício da minha infância? Por que?


Respostas? Onde estão...
Faço logo menção à uma música de Danni Carlos que diz:

“Respostas que eu não tenho... eu me disperso eu nem as quero, se o que eu mais gosto nela é seu mistério, seu mistério...Respostas só confundem o que o meu coração diz, respostas são praqueles que tem medo e eu já caí!”

Talvez eu ainda esteja muito ligado ao meu passado. Retorno a ele sim, sempre, quando tenho dúvidas, quando tenho medo e quando algo no mundo, hoje, não me agrada. Volto aos meus brinquedos, idéias, planos e papéis. Desenhos vadios, desenhos vagos que me faziam sonhar e desejar um futuro tão inocente longe dos monstros da nossa sociedade atual, longe dos jornais da imprensa, longe dos castelos, longe dos espinhos. Eu não perderei minha infância nunca!
Serei uma eterna criança, um jovem-criança, um adulto-criança, um velho-criança, idoso-criança, defunto-criança, assim retorno à vida e faço meu recomeço.
A árvore caiu? Pena. Vivi muita coisa ali sim Mas há uma árvore maior, gigante, cheia de recordações boas e lembranças inocentes de criança, cheia de frutos redondos de esperança e histórias, desejos e ilusões que, não pára de florescer e crescer, incessantemente, dentro do meu coração. Tenho raízes, aliás, sou raiz, sou peça de quebra-cabeça, sou pedra, sou mármore, sou peça chave do meu próprio coração. Sou um, sou apenas, sou nada, sou sol. Sou apenas uma partícula, uma seiva, o orvalho que cobre as folhas e condecora o verde das plantas. Sou recordação, sou passado e, por que não, sou criança;

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