terça-feira, 15 de março de 2011

O inquieto, o versátil e o multifacetado como novo modelo de profissional.


Eu achava ser comum essa dúvida que me atormentava no início do meu vestibular. O que prestar? Mas eu percebia que muitos sabiam exatamente o que queriam, ou, pelo menos, o que seus pais queriam: médico rico e, não necessariamente, famoso, mas formado e atuante. Talvez se essa, definitivamente, não fosse a vocação do filho, a segunda (talvez única) opção era o Direito ou a Engenharia. E temos aí três verbos que demandam poder: Salvar (medicina), Defender (direito) e Construir (engenharia).

Optar por Jornalismo foi uma decisão ousada. Na minha família pouco são os formados. Portanto, qualquer academia que fizesse seria bem quista e bem vinda pela minha família. Interrogado eu fui, claro. Estudei o meu último ano do Ensino Médio em colégio de rico. Lá 50% da turma era da medicina, 25 % era do Direito e 25% era da Engenharia. Eu não era porcentagem eu era a exceção. Mas eu sabia que também podia salvar e construir, tudo através do Jornalismo.

Mas por que pagar um colégio tão caro se o que ele quer é jornalismo? Se interrogavam alguns. Meus pais fizeram questão. Não ter passado no vestibular da UFES (a única faculdade federal do Espírito Santo – vergonha!) foi importante. Atravessar as fronteiras do estado e seguir para Ouro Preto me fez sair do quadrado e enxergar novas possibilidades.
Acho que desde sempre o cinema atraiu. E, com as novas possibilidades acarretadas pela tecnologia e pela globalização, eu pude, simplesmente, criar filmes! Eram amadores, mas eram meus e eram resultado de toda uma referência vinda da telenovela. Hoje, porém, já posso tecer críticas acerca da Tv.

A telenovela tenta ser a realidade, mas, muitas vezes, fracassa. Na tentativa criam alegorias humanas deturpadas. Ninguém é essencialmente o bom moço, ninguém é totalmente uma mocinha. A Tv, em alguns momentos, peca por não ousar, por não arriscar. Plastifica e cria modelos. Novela, muitas vezes, vira sinônimo de merchandising. Não se busca desalinhar o padrão praticamente industrial. Não defendo, aqui, o que eu poderia chamar de “socialismo teledramaturgico”. A qualidade jamais deve ser perdida, mas não custa nem um pouco investir em tramas severamente enraizadas na cultura brasileira, na realidade brasileira. Câmera na mão gente!

Interpelam-me: Mas ninguém gosta de cultura! Ninguém quer se ver na televisão! Medíocre são estes que acreditam ser a cultura, apenas aquilo que se digere no teatro e se reproduz em museus. A cultura talvez também seja o cotidiano das pessoas da favela carioca e a realidade está longe de ser algo difícil de ser digerido pela população. Se não há realidade, mesmo que um tanto fantasiada e maquiada (já que a cenografia é excelente e até o pobre tem casa modesta na Globo), o que se vê na TV? A novela, nada mais é, do que um Jornal Nacional destrinchado e encenado. O que não se deve perder nunca é o vínculo com o telespectador. E o telespectador não é somente a socialite. Muito pelo contrário. Creio que a maioria dos telespectadores advém da classe média. E já que essa é a classe que garante o sucesso da novela, que se invista, cada vez mais, no recorte de sua realidade, no estudo aprofundado de suas relações inter-pessoais.
Mas me volto ao título desta postagem: A inquietude e a versatilidade como tributos importantíssimos no mercado de trabalho. Conversando outro dia com um amigo Jornalista, ele me relatou o início da carreira como uma fase extremamente frustrante. Por gostar de escrever, dançar, interpretar etc, etc, etc, era, muitas vezes, criticado. Como pode ser um jornalista, se, ao mesmo tempo, faz centenas de outras coisas? Era essa a pergunta que permeava em seu meio de trabalho. Até pouco tempo, um profissional multifacetado, que tinha dom para ir além, não era o modelo querido. Privilegiava-se aquele que investia numa carreira, que sabia fazer uma coisa só e muito bem. Mas as coisas mudaram. Hoje em dia, há pessoas que fazem 10 coisas que resultam 10 coisas de sucesso!

O mercado de trabalho mudou. A globalização acabou exigindo um profissional que atendesse a diferentes demandas. Hoje, por exemplo, não se pode aceitar que um jornalista não tenha uma percepção mínima de crítica ao cinema, à telenovela, a arte. O profissional de hoje, seja ele engenheiro, advogado ou, até, médico, deve estar informado quanto às novas plataformas tecnológicas. Aqueles que se prenderam a máquina de escrever, sem acompanhar o crescimento absurdo da internet e das novas ferramentas como twitter, facebook, blogs etc, foram, literalmente, passados para trás.

Chegar a essa conclusão que, desde já afirmo ser pessoal, me fez bem. Além da dúvida que permeara a época de vestibulando, há a dúvida do mercado de trabalho: roteirista, produtor, diretor ou um mero redator que cumpre as tarefas e segue à risca todas as regras? O que eu quero é mais. Se há um curso referência em roteiros, dele vou me empenhar. Se há uma pós-graduação especialíssima no cinema, por que não me arriscar? Gostar de dirigir, escrever e produzir, não representa, para mim, um problema, mas uma solução. Se, numa produção, temos pessoas que curtem e que escrevem, estes vão possuir uma capacidade crítica aguçadíssima. Vão poder entender o processo no qual estão inseridos com muito mais clareza.

A fase do funil (aquela em que uma carreira vai predominar sobre as outras) é claro que vai acontecer, pois, afinal, temos que nos sustentar. Mas o que quero defender aqui é que, mesmo preso a certa profissão, nada te impedirá de, nas horas vagas, personalizar seu blog, construir uma crítica, usar o twitter, gravar um filme, escrever um livro. A repressão (espero eu) acabou! Por isso invista em tudo o que você sabe fazer. Não perca tempo. Leve um bloco de papel e caneta para a fila depressiva do supermercado e escreva, e crie, e produza. Quanto mais produzir, mais vai se enriquecer.

É estúpido acreditar que existem profissionais que chegam ao local de trabalho, cumprem todas as funções, desempenham corretamente todas as tarefas, mas que não saem do quadrado. É, mais uma vez, o medo de arriscar, o medo de sair do padrão, de se jogar. Mas até entendo. A necessidade de muitos por um salário, fez com que o fato de cumprir apenas as tarefas obrigatórias já fosse o suficiente, afinal, o valor do salário no final do mês seria o mesmo. Faz sentido? Faz. Mas se prender e acreditar que aquele será seu emprego para o resto da vida é, praticamente, se fadar ao fracasso.

4 comentários:

Anônimo disse...

Querido Léo, cada dia que passa minha admiração por você aumenta... Não se preocupe: mesmo não sendo um médico, um advogado ou um engenheiro vc tem brilhado; mais até do que muitos desses profissionais!!! Quantos deles passam pela vida, sem fazer qualquer diferença?! E vc tem feito toda a DIFERENÇA! Nunca vou esquecer das palavras de Agnaldo Silva: "uma fábrica de idéias"! Vc vai longe, menino... muito longe! Tenho orgulho de vc!!!! Brilhante crônica... Parabéns!

Anônimo disse...

Léo, deixei um recado para voce no post anterior, se puder ver e apagar logo. Fico agradecido.
um grande abraço
Alessandro

Bárbara Zdanowsky disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bárbara Zdanowsky disse...

No início do nosso curso, lendo um texto meu, você disse: "Sinto falta dessa capacidade de síntese nos meus textos." Hoje, respondendo o seu comentário: você não precisa sintetizar nada. Seus textos são bons do jeito que são. Admiro muito o seu trabalho desde sempre. Muita sorte sempre, porque competência você tem de sobra!