sábado, 23 de julho de 2011

A BOTA E O PIRU DO PADRE

Muqui, sempre me surpreendendo...

Eu, que sempre fico no Portal ASD a curtir os comentários bem humorados de Aguinaldo Silva quanto às suas viagens, encontros e acontecimentos, acabei apanhando um pouco deste estilo sarcástico e polêmico. Ora veja, minha gente, que estou numa fase tão “pra frente” que faço comédia da minha própria cidade. O problema é que, ainda sim, muita gente confunde comédia com respeito. Tenho toda e maior admiração por Muqui, mas não há como não falar de alguns de seus estranhos detalhes com bom humor e indagação.

Comecemos pelo monumento central da cidade: O Pirú do Padre. O nome “Muqui” é indígena e a cidade é muito conservadora, leia-se “fiel”. A Igreja Católica é ainda quem “domina o centro das atenções”. A Igreja Matriz da cidade localiza-se no centro do município, no alto de uma rua elevada. É uma rua mega estreita, que se espreme de carros porque, até os recém “ricos” fazem “questã” de subir e mostrar seu veículo. Dou risada, como sempre. Ainda não sei se definiria parte da população na Idade Média ou Período Colonial. Mas fiquemos com o segundo, já que o catolicismo e o “indígena” são as bolas da vez.

O Piru do Padre fica exatamente na entrada desta rua estreita. É um monumento feito de concreto, de aproximadamente 4 metros, elevado, ereto e chamativo. Ele fica próximo à um coreto antigo da cidade e é um dos charmes do muquiense, embora, agora, esteja um pouco esquecido.

Agora, o surgimento do jornal amador “A Bota” me surpreendeu ainda mais. Na madrugada muquiense um jornalsinho, feito por computador e impresso em impressora comum caseira, foi espalhado aos quatro cantos da cidade. Nele, piadas e comentários sobre os governantes da cidade e todos aqueles que, de certa forma, vem chamando a atenção por, exatamente, não fazerem nada pelo bem da população.

Gostei. Não fiquei demonstrando muito a minha satisfação com o jornal, já que este ano já desabafei horrores quanto a questões do município no lançamento do livro em março (talvez isso pudesse levar em questão o meu envolvimento nesse tipo de publicação), mas eu ADOREI. E adorei mesmo. Fiquei orgulhoso em saber que ainda há pessoas capacitadas a criticar e falar dos acontecimentos da cidade com bom humor, exigindo mudança. Esta é a palavra. Mudança.

E, infelizmente, as pessoas aqui só vão entender este recado (o da mudança) se a gente, de certa forma, colocá-los numa saia justa de piadas quanto as imagens destas pessoas. È claro que eu jamais iria me expor desta maneira, fazendo um jornal desta forma. Quando critiquei a cultura na cidade e na região, o fiz no lançamento do meu livro no qual fiz questão (mesmo vendo meus pais gastar o que tinham e o que não tinham) de fazer algo grande e que chamasse atenção. O prefeito e as demais autoridades, incluindo o Secretário de Cultura do ES, chegaram no status de “convidado” e quando apanhei o microfone eles ficaram numa saia justíssima, digo calça, já que se tratam de marmanjos. Falei e falei até vê-los extremamente constrangidos.

E ainda tive que rir ao ver que alguns vereadores, ofendidos com a tal publicação da “Bota”, fizeram extensos pronunciamentos veiculados no alto falante da cidade. Já é difícil encontrá-los na câmara e, quando aparecem, vão ficar discutindo e se defendendo do indefensível? Não á o que justificar, não há o que questionar. Não se pode negar que este jornal, embora sarcástico ao extremo, herdado da ideia de um antigo jornal que era veiculado em Muqui com mesmo nome há décadas e que tinha o mesmo propósito, representa o desejo e uma visão de alguém que está insatisfeito com algumas posições municipais. Muita gente gostou, apoiou. Mas o anônimo não deixou seu endereço de e-mail para que nós pudéssemos aplaudi-lo virtualmente.

Como faço jornalismo e tenho um lado muito crítico quanto à algumas questões em Muqui adorei o modo como trabalharam as questões e criticaram as pessoas. Guardei um exemplar para mim e ele vai virar a minha monografia de final de curso. Só não dou detalhes porque, nesse mundo virtual a gente tem que guardar tudo em completo sigilo, ainda mais se tratando de trabalhos futuros.

O LANÇAMENTO DO LIVRO DE DONA ESTER

Queridos, tenho todo o respeito por Dona Ester, uma senhora muquiense residente em Vitória, que, no último final de semana lançou um livro em Muqui. Quem bancou a festa? A prefeitura e a secretaria de cultura do ES. Sim, as próprias. Pois elas fizeram questão de bancar uma festa para receber gente de fora. Pois é assim que considero Dona Ester. Uma mulher de fora. Já tem dinheiro, já tem uma vida consolidada. Por que gastar com um evento de gente de fora? Por que não promover eventos de valorização do que há dentro. Não há dentro? É claro que há! Promova, então, oficinas, concursos de poesia, música, teatro, roteiro. Tenho certeza que novas estrelas aparecerão. E foi o que aconteceu numa oficina “pobre” promovida por mim e meus amigos para estudantes de Ensino Médio na região. Quanta gente nova que tem talento e que só precisa de oportunidades...

Não posso deixar de fazer comparações. O clima do lançamento de Dona Ester não era o mesmo do meu. Queria fazer algo emocionante no meu evento. Homenageei meu avô, meu exemplo, minha inspiração que fez 85 anos na véspera. Fiz um bolo gigantesco e todos os convidados aplaudiram, de pé, este homem maravilhoso que ele é. Depois disso veio um debate, pois, queria mostrar os novos talentos, a nova cara que produz e que ninguém vê. E ainda teve o meu comentário ardiloso quanto às políticas estaduais e municipais de cultura. Depois de tudo recebi críticas e elogios maravilhosos. A coisa teve, de fato, emoção. A festa de dona Ester estava gelada. Quando entrei no Centro Cívico Municipal, parecia ter voltado ao século passado, pois as senhoras, prostadas diante de mesas fartamente servidas, se sentiam as mais joviais das joviais (nada contra, ok? Só um comentário). A música era pavorosa. Coisa retro demais. Toda a classe muquiense que vive do tal “nome” estava lá. Diferentemente do meu, onde havia gente da gente, gente humilde e gente cafona, mas que bota pra acontecer. Ou vocês acham que eu esqueceria dos meus amigos do meu “morrão” justo na hora de criticar algo que eles também reivindicam na cidade? Poupem-me.

Como se tratava de um livro de poesias, uma senhora leu alguns trechos do livro. E quando eu achava que a coisa estava triste demais, ficou pior ainda. Querendo animar a situação, a senhora disse:

- Vamos lá, agora vou precisar da ajuda de vocês.

Ela iniciou a leitura de uma poesia sobre o trem da cidade antigamente. E, em alguns trechos da poesia, ergueu a mão pedindo que os convidados cantassem uma frase da poesia que era:

- Piuí, piuí, piuí ...

Agora imaginem, meus caros, aquela gente toda feliz, animada, conservadora e literalmente “atrasada” cantando “piuí”. Foi a visão do inferno. Pareciam todos condenados à morte. E a senhora que recitava a poesia continuava como se todos ainda estivessem num gás absoluto. Ri demais. Olhei para minha mãe, que havia me acompanhado e, juntos, caímos na gargalhada. Comprei meu livro, pedi o autógrafo e sumi daquele lugar. Pena, que o valor que as autoridades dão à Muqui ainda me cheira atraso. Se algo, de fato, não mudar estaremos fadados ao fracasso. Eu jamais farei festa parecida com a primeira do meu livro, mas não perderei outras oportunidades de vomitar esses sentimentos na mesa dos meus próximos convidados.