domingo, 14 de junho de 2009

E as pessoas se tornam especiais

“Hoje, faz exatamente uma semana que começamos a gravar A Herança”. Ok? E daí? O que eu tenho a ver com isso? Bom, eu (autor desse texto) tenho muito a ver, até porque sou um dos diretores do filme. Mas, e você (caro leitor?). A Herança é um novo filme produzido por uma câmera digital! (por favor acreditem).
O fato é que, a frase citada linhas acima, poderia ser a mais normal possível se a essência dela fosse tão normal quanto. Hoje, domingo, faz exatamente uma semana em que fomos gravar em Domingos Martins, num hotel que deixa qualquer pessoa, amante de frio, amor, arquitetura e conforto, encantada. Digo isso porque eu me surpreendi com tudo o que vi e vivi naquele dia. Surpreendi-me mais ainda com a distância existente entre minha casa e o hotel. Como pode um lugar daquele estar tão perto de mim e eu nunca ter ouvido falar?
Também me surpreendi com as pessoas que foram comigo. Como são belas as pessoas que entraram na minha vida assim, como quem não querem nada. Pessoas engajadas, encantadas...Tudo foi lindo. Dias que, num dia repleto de problemas, você queria muito reviver.
O dia, por si só, já daria um filme. Making-of não resumiria nem um pouco o quão bom foi aquele danado dia. Nenhuma outra sinopse, relato ou vídeo demonstraria o quanto aquele dia foi bom, tanto na frente como atrás das câmeras. O conforto, a hospitalidade, o local...tudo contribuiu para transformar aquele dia de gravação simplesmente per-fei-to.
Mas continuo mais surpreso com as pessoas. Não paramos um só minuto. Não havia tempo algum para sentar, respirar e dizer num microfone: “Equipe, meia hora para uma pausa”. Tínhamos que gravar seqüências imensas de cenas num tempo recorde. Chegamos ao hotel de manhã e só saímos à noite, com um clima frio e trilha sonora regada à risos de diferentes tonalidades e volumes. Por conta desse tempo rigorosamente cronometrado, não havia um só minuto em que pudesse avaliar realmente como foi o papel de cada um naquela ocasião. Mas pude captar, sim, a essência de tudo. Captei todo o esforço, toda a força que unimos naquele dia por uma coisa tão simples. Fiquei imensamente satisfeito com a atuação das pessoas que se ofereciam para tudo, queriam ajudar, me ajudavam em diversas tarefas. Comecei a pensar que aquilo que começou como “brincadeira” estava se tornando (aos meus olhos e aos olhos dos demais) uma coisa mais séria e engajada.
O clima dentro da van foi ótimo. Comemorávamos as cenas, comentávamos os fatos, os casos e acasos. Na saída do hotel ganhamos caquis como cortesia do hotel que nos deu umas caixas repletas da fruta. No caminho, já com toda as bolsas com figurinos e outros acessórios na parte de trás (todas enfurnadas nos últimos bancos), resolvemos colocar as caixas com a fruta em cima dos bancos também. Papo vai e papo vem. Ferio vai e freio vem. Vimos os caquis rolando van à baixo. Já era noite, tudo escuro. Não havia a menor possibilidade de se juntar todos aqueles caquis novamente. Risadas. Chegamos à cidadezinha, também hospitaleira, também rica na sua arquitetura, mas que deixa a desejar por centenas razões que não merecem ser apresentadas aqui. Nos direcionamos à um restaurante onde, ao som de violino (que também fez parte das nossas gravações do hotel), comemos pizza e comentamos as cenas gravadas no hotel.
Que clima agradável, que saudade de rever e, principalmente, reviver aquele momento!Vontade imensa de ver logo essas pessoas trabalhando, se jogando para uma cena, batalhando para fazer e dar o seu melhor. Tudo e todos contribuindo para transformar o fictício em real, defeitos em efeitos, fazer brilhar. Batalhando para fazer bonito, deixar tudo lindo. Batalhando para mostrar serviço, mostrar o rosto, deixar valor. Batalhando para fazer valer a pena se entregando com amor. Batalhando para ganhar espaço, para fazer um pouco de tudo, fazer de tudo um pouco, fazer vida, fazer arte.

Pensamentos infantis

Muitas vezes acho que sou estranho. Estranho não seria a palavra ideal. Mas, sim diferente. Isso! Eu me sentia diferente. Tudo era comigo! Tudo acontecia comigo! Ou melhor, na-da acontecia comigo. Desde criança eu nunca soube ou consegui levantar uma pipa. Inúmeras eram as rabiolas presas nos galhos das árvores, ou então dos arranhões e machucados no joelho por sair correndo com a pipa no ar, com a linha em punho. Eu não olhava para frente, só fixava meus olhos àquela “obra de arte” , àquela arquitetura indecifrável feita de bambu e papel de seda. Quantas vezes caí, quantas vezes chorei, cantei.
Gosto muito de lembrar dessa fase da minha vida. Adoro e gostei muito da minha infância. Aliás, acho que ainda vivo ela. Não me considero uma “criança-grande”, mas, se pensarmos bem, vamos notar que somos as mesmas pessoas, com as mesmas vontades, mesmas manias (mesmo inconscientes). Os rostos (é claro) mudam, aliás, devem mudar. Mas os nossos medos infantis, as taras, os desejos, creio eu, que continuam. Certas pessoas mudam radicalmente. Mas eu, particularmente, sou daqueles que carrega bastante coisa do passado.Eu consigo lembrar perfeitamente das noites que passava desenhando, pintando não-sei-o-que. E é somente quando adultos é que percebemos o quão bom era aquela arte indecifrável. Aquela vontade absurda de rasgar papel, de pintar o nada, fazer rabiscos (muitas vezes na parede), sonhar, chorar, sentir fome, gritar, deixar as coisas caírem e fazer cara de santo, cara de “meu Deus, o que eu fiz?”, cara de medo, vontade de sumir. E a única expressão que conseguimos esboçar é de: “Desculpa, foi sem querer”.
Como eram magníficos os pensamentos infantis. Tínhamos medo de tantas coisas, medo de lençóis, de geladeira, de luz, sombra, calor e frio. Tínhamos medo dos personagens, dos barulhos que o vazio existencial provocava, dos ventos estranhos, da solidão, da televisão, do rádio...
Concordo que de veras muita coisa mudou. Não tenho tantos medos. Mas continuo sendo a pessoa mais desastrada desse mundo! Consigo derrubar coisas e tropeçar em coisas invisíveis com uma facilidade absurda. Tenho medo de microfone, de cachorro e muito, mas muito medo de errar, fracassar e não realizar coisas na vida que, para mim, são essenciais. Casar, ter filhos, ter cachorros (sim, ainda tenho medo deles, mas vivo em contradição), comer pipocas queimadas feitas pelo seu amor, amar e ter uma casa linda no campo, casa de madeira, sem luxo e com muita simplicidade. Todos nós temos sonhos.
Quando criança tinha muitos sonhos, mas não sabia defini-los. Eu tentava alcançá-los do meu jeito. Cresci cercado de papéis e idéias pra lá de malucas. Aos 6 anos eu cismava em criar uma casa numa árvore do quintal que não passava de dois metros de altura. Tolice? Talvez. Os sonhos não eram inatingíveis. A gente só imaginava demais. E sinto muita falta dessas imaginações antigas, infantis. Confesso que, de vez em quando surgem imaginações advindas dela. Muitas vezes tenho umas idéias absurdas, dessas que não cabem no padrão de “normalidade” do mundo moderno. E eu não parava. Não sosseguei enquanto não vi, preso à arvore, um balanço, feito com maestria pelo avô. O balanço só tinha uma corda e um toco de madeira. A corda era amarrada bem no centro do toco que ficava de forma horizontal. Bastava enfiar as pernas entre a corda e pegar impulso. Que diversão!
Saudades, quantas saudades. Saudades daquelas imaginações que, ao passar do tempo, foram ganhando formas, contornos. Foram virando palavras, se desdobrando em frases, textos...Eu comecei a escrever!
O que verdadeiramente me encanta em crianças é a imaginação e a vontade que possuem de criar. Afirmo que fui uma criança bem criadora. Cresci fascinado por Natal, épocas festivas, épocas simbólicas, decorativas. Adorava planejar as festas, criar as coisas, pintar, escrever...Já brinquei muito também, chorei bastante, dormi muito e acordei sem ter caminho algum. Mas o que realmente movia (e move) a minha capacidade criadora é a gana de dominar o mundo, dominar meus pensamentos, dominar situações, dominar personagens e uma fábula inteira através de coisas tão simples como o ato simbólico e humanamente instintivo de tocar num lápis ou teclado e deixar suas mãos e dedos dançarem nessa maravilhosa sinfonia da escrita.

sábado, 13 de junho de 2009

Cinema e quarto

Faltam exatamente quatro minutos para a meia noite do dia 22 para o dia 23 de maio. O Laptop toca uma música que me traz uma paz incalculável. Mas é impossível sair dessa página de “Word” para simplesmente ver quem a canta e qual o nome da tal música. A madrugada parece que vai ser fria, coloco meias, mas deixo as pernas ao léu. Uso apenas um calção de futebol.
Pode parecer ridículo, mas to com vontade de relatar coisas minuciosas, espécie de diário. Mas o que há de tão errado nisso? Precisamos, muitas vezes, prestar atenção em detalhes, cenas quase que irreparáveis. Anotar também é importante, relatar, escrever é tão bom... faz a gente se comunicar (muitas vezes) com nós mesmos. Esse meu pensamento me fez lembrar um dos recentes livros que leio para o vestibular. “Paraísos Artificiais”. Dois dos contos do tal livro enfocam o ato de escrever como saída para a “imobilidade” das personagens. Não posso lembrar em vestibular porque isso ás vezes me causa pânico. Pânico, na verdade, não seria a palavra mais adequada. Talvez medo. Medo de perder as pessoas, medo do vago, do “alguma coisa está faltando aqui”.
Os livros continuam na mesa de jantar. A tolerância de vovó com a mesa repleta de pilhas com os mais variados tipos de livros e apostilas me encanta. Há papéis pregados pelo guarda-roupa, perto da cama, inclusive no banheiro! Terminei os assuntos de História Geral e Brasil, mas a insegurança é grande. Espero que eu termine Biologia assim que voltar do retiro de sábado e domingo. Quero, ainda, fazer bastantes revisões de história e biologia, além de revisar os conteúdos dos livros, pelo menos os resumos. A prova se aproxima. E eu não quero ficar pensando muito nisso. Penso que vai dar tudo certo.
Bom, cheguei agora pouco da casa da minha “nem” linda. Fomos à rua com a sua mãe, demos uma volta, fomos para sua casa, fizemos alguma coisa para comer e assistimos à um filme. Tava frio (e continua bastante), tive que enfiar minhas pernas descobertas no cobertor da Mariana. Ela me fazia carinhos, e eu sentia veemente seus toques, suas expressões singelas e delicadas, seu sorriso tão provocativo, tão infantil, tão belo, tão arte. Eu retribuía os carinhos, os toques...mas o filme estava me surpreendendo. A imagem, a história... incrível! Era o tipo de filme que eu ve-ne-ro. Mas não vou mentir: o filme me deixava aflito, ansioso, curioso, preocupado, com medo. Não pude deixar de ir correndo para o Google e pesquisar algo sobre o tal filme intitulado “O amigo oculto”.
Bom, o quarto continua desarrumado. Além dos papéis que estão no guarda-roupa e perto da cama, há uns papéis jogados junto à alguns cd’s na mesa do computador. A cadeira está repleta de roupas sujas e meias que às vezes uso para tirar a poeira da tela do computador. Ah! E também há a presença de uma mosca chata que insiste em me perturbar aqui na cama. Acho que ela quer entrar no texto também de alguma forma. Um dia ainda escrevo um artigo sobre a minha real relação com essas moscas...
Numa outra mesa (uma espécie de pequena estante) há um ventilador com tanta poeira que nem vale a pena ligá-lo (sim, até no frio insisto em ligar o ventilador).E, quanto a poeira, ela ficará lá durante um bom tempo. É triste criar coragem para limpar toda essa bagunça!
Acho bom eu deitar e esquecer esses “detalhes”. Acha difícil esquecer tanta bagunça e poeira? Nem tanto. Basta desligar o laptop e apagar a luz. ;)
Boa noite!

Criança com medo


Eu tenho muitas recordações do passado. Da escola, dos amigos, das festinhas e até das brigas. Os ensaios, os trabalhos, os professores! Tantas características, tantas lembranças que, se tivesse com bastante tempo acumulado, poderia descrever detalhadamente tudo o que acontecia naquelas manhãs antigas. Uns poucos amigos já estão trabalhando, já estão desvinculados à mim e, quando os encontro pelas ruas, nem sequer trocamos um cumprimento. Alguns se mudaram, mudaram de rumo, trajetória. Uns foram para o Rio, Minas ou para o céu. Alguns já são pais, mães de família. Uns com tantos rumos, outros sem nenhum caminho, nenhuma fava de esperança.
Há, sim, vontades de voltar no tempo. Vontades de reviver e não de mudar nada. Vontade de voltar a ser uma daquelas crianças que tinham medo do futuro. Achavam tudo incerto, tinham muitas dúvidas. Sim porque, naquela época eu tinha muitas dúvidas. Hoje, tenho uma infinidade delas. Milhões de perguntas relacionadas (quase sempre) à ele: O futuro.
Mas passei a me acostumar com a barata inércia das perguntas. Elas aparecem, depois são rapidamente dissolvidas, resolvidas, correspondidas e, finalmente, acabadas. Digo “rapidamente” porque o tempo passa tão rápido que o que o que é futuro já é presente e o presente se torna passado tão rápido quanto. Por isso acho as perguntas relacionadas à futuro tão efêmeras, passageiras e tão insignificantes. Porém, entristeço-me ao lembrar que, mesmo sendo insignificantes, não podemos desprezar sua incômoda existência.

Árvore

E eu fiquei a imaginar uma árvore, arvore grande, objeto pesado, objeto precioso que a natureza gerou, que se transforma e se pesa com o passar do tempo. Fiquei a imaginar suas ondas, suas formas, seus cantos, seus gritos, gemidos e medos profundos. Fiquei a imaginar traços, rabiscos, desenhos, animais e seres inanimados num constante sobe e desce.
E as formigas? Quantos encontros, quantas despedidas, quanto desce e sobe! E eu me imagino bem em baixo dessa árvore, que me ampara de um sol escaldante, que me rende um vento que se torna meu lençol invisível, que faz apagar aquele som horrendo que vem dos centros, das massas, dos barulhos maciços e maquinados.
Fico ali só, correndo das pessoas e tentando evitar uma solidão sólida. Tentando evitar que eu fique sozinho, sozinho apenas: sem meus pensamentos, sem minhas dúvidas, sem a presença verde, sem o barulho das águas, sem os animais, sem os seres e o tempo.