sábado, 25 de abril de 2009

Promessa

Rain em inglês, lluvia em espanhol, regen em alemão, pluie em francês ou pioggia em italiano..O fato é que chuva, em português, é a mesma em qualquer lugar e sempre traz consigo...(suspense).. água!. Porém, a queda dessa água pode ser entendia de várias formas, de diversas maneiras e trazer diversos significados. Desde que não seja ácida ou venha em grande abundância a ponto de causar alguma catástrofe natural, chuvas são sempre bem vindas. Há apenas uma pequena minoria que detesta chuva, frio e, inclusive sol! ( o querem na verdade hein?).
Num plano geral, uma rua. No detalhe, uma menina triste, pobre, chorando junto a um projeto de árvore (um galho seco, pode ser!), um carro passa, joga uma ou duas moedas, a menina olha triste, chora mais. De repente começa uma chuva, a menina chora ainda mais, pessoas correndo, guarda chuvas recém-abertos e a menina lá, sozinha com as moedas. Chuva, nesse caso, só vem completar o sentimento triste que emana na cena, só vem completar certa melancolia que a menina demonstra na cena (depende da atriz!).
Num plano geral um casal, dois anjos e (acreditem!) brigando. No detalhe os dois se olhando, discutindo...Um dos dois resolve parar, respirar e dizer: chega! No close, um beijo apaixonante, sem escrúpulos, sem medo, sem raiva...No plano geral..(adivinhem!) ela! A chuva! Que bênção! Que magia! Cena de prêmio hollywoodiano...(okay! Fui longe demais!). Mas chuva é assim! Pode ter diferentes significados e podemos entendê-la de várias formas. Outro dia caiu uma baita chuva a noite, chuva linda, chuva boa, chuva fria com tempo quente. Do outro lado sentiu-se a mesma vontade. Sair! (sim, sair!!!) Tomar banho de chuva!
Fui encontrar aquela que eu amo ns curvas das ruas esburacadas e mal planejadas do nosso pequeno e humilde bairro. Andei contra a água que descia violenta pelos cantos dos paralelepípedos. Encontrei insetos fugindo da água, vi pessoas correndo da água, correndo da chuva! Não somos de açúcar! Esperei, esperei. E ela apareceu depois. Um baita sorriso no rosto, aquele olhar inocente... Estava toda molhada, rosto pingando, pareciam lágrimas. Cabelos molhados, fios nos ombros...Continuamos na chuva, feito duas crianças alegres e fugidas de padrastos e madrastas perigosas, órfãos. Sem medo, sem tempo nenhum para respirar. Amamos-nos. Corremos pelas possas d’água, navegamos pelos barquinhos-de-papel imaginários e voamos baixo. Longe. Estávamos longe. Pensamentos perdidos, sentimentos parecidos. Água gélida! Um rato! Sandálias com lama, felicidade infinita, beijos e beijos. Água santa, água benta, água, simplesmente!
A vontade era de ficar ali o tempo todo. Que contradição! Que composição que se formara! Parecíamos loucos, parecíamos tontos, bêbados, mas, acima de tudo, inocentes. Não negamos nada, formamos nossa constelação sob a temperatura alta e baixa. Tudo ao mesmo tempo. Que bom era sentir aquela temperatura ‘meio-termo’, que bom sentir aquele beijo, aquele calor...

“Iemanjá..! Vem lavar a nossa fé”...


Foi a trilha. Foi a música. Que fé absoluta. Puta sentimento batia naquele momento! Os antigos medos se substituíram. Se antes era medo de arriscar, hoje era medo de perder. Perder pro tempo, pro futuro...Santa fé! A gente se abraçava e sentia forte uma vontade imensa de viver junto. Apenas dividindo momentos únicos com elementos naturais e santos que nos faziam viajar, iluminar caminhos. Era gostoso compartilhar esses e aqueles momentos com o barulho do mar, som de cachoeira, voz de anjos! Como era bom! Como é mágico!
Fantasia demais? Não, não. Era a fantasia real, fantasia de vida real, vida leal. Costumo sim transformar tudo em poesia, tudo em vídeo, cinema! E por que não considerar fantástico tudo aquilo? Expressões de felicidade, sentimento mútuo...isso sim é fantástico! Purpurina, efeitos sonoros, efeitos visuais, explosão de luz, chegada do homem à lua, descobrimento de fórmulas químicas, geométricas e medicinais (descul-pe-me), mas não há nada de fantástico nisso. Há, realmente, coisas mais fantásticas do que o simples fato de VI-VER? Viver tudo isso é fantástico! E o que seria de mim, pobre poeta e criador de fantasias, se não revivesse momentos através de palavras? O que seria de mim sem os pontos e vírgulas que separam momentos tristes de sentimentos sublimes e únicos? O que seria de mim sem as linhas que abrem caminho para as palavras, para as letras que se unem em busca de respostas claras para perguntas escuras e sóbrias? O que seria do Léo sem a energia que emana de mim e dissipa tudo o que penso, espalha todo o sentimento, borbulha segredos, transforma os medos, faz tudo virar poesia? O que seria de mim, hoje –amanhã e sempre – sem seu imenso amor? Sem esse seu amor diferente daquele que sentia antes por mim? O que seria de mim sem ter esse imenso sentimento de vitória, esse sentimento de missão cumprida? O que seria de mim se não tivesse conseguido te conquistar e mostrar tanto amor que estava guardado num pequeno baú grande repleto de coisas boas pra te oferecer, repleto de frases e palavras semi-prontas para te presentear?
E só foi preciso mais um tempo para eu perceber que ela, era bem parecida comigo. Quase que em tudo. Quanta simplicidade! Eu não tinha (nem tenho) vergonha de deixar lágrimas caírem quando elas bem querem. Não me permito controla-las quando querem fugir dos meus olhos, estancar os sentimentos, escorregar sobre meu rosto, curvar pelas espinhas e nutrir meus lábios. As deixo navegar, as deixo, simplesmente. Lágrimas, assim como chuva, podem ter inúmeros significados. Bons, ruins, ruins-bons, bons-ruins...No meu caso, elas aparecem a todo momento. Não me considero um emo, até porque não choro por motivos banais nem tam pouco choro à toa, sem ter motivo. Se choro, foi porque algo, uma cena, um objeto, uma pessoa ou foto, me chamou tremenda atenção e causou algo estranhamente esquisito naquele pequeno baú que fica guardado numa gaveta pequena do criado mudo do meu quarto chamado coração. Coisas tristes? Sim. Também chorava por coisas tristes. Choro ainda. Quando me machucam, me ofendem sem querer. Quando me olham sem ter exatamente o que dizer. Quando me negam, quando me prendem, prendem minhas palavras, minha arte, minha fantasia, ferem minha vivenda de ilusões.
Outro dia vi fotos antigas. Não tão antigas. Doce menina, pequena criança. Menina mineirinha, menina branquinha, menina-moça, menina-mulher. Entrei na foto e senti coisas tão boas que imediatamente minhas lágrimas saltaram dos meus olhos (acreditem, o mesmo está acontecendo agora). Aquelas fotos mostravam o quanto aquela menina representava e que sentimentos ela guardava no seu baú. Quanta coisa boa. Aquele olhar de susto, como se não tivesse compreendendo nada ao seu redor. Aquele olhar fugitivo, olhar bandido. Aquele sorriso meio escondido. Aquele cabelo amarrado, aquela expressão sem preocupação com o tempo, com a vida, com o vento que tirava os fios de cabelo do lugar. Sem preocupação com a imagem, com o “ridículo”, com o perfeito. Momentos se tornam perfeitos, muitas vezes, porque ninguém se preocupa com o ideal, com o pós, com o “depois”. Quando ninguém se preocupa como que vão falar, comentar, fofocar ou reparar, tudo fica lindo, quase perfeito. Nada é perfeito. Mas existe, sim, um perfeito particular. Um perfeito que completa, une, conjuga.

Quando se ama algo perfeito, se diz “perfeito aos seus olhos” ou “perfeito aos meus olhos”. Tudo parte de um ponto de vista. Questão de opinião (ou seria gosto?).

O fato é que me tornei um amante de chuva, vento e outros efeitos naturais que fazem uma cena valer mais que qualquer coisa. Tornei-me amante de mim mesmo, amante das minhas artes, dos meus gostos, dos meus sonhos. Sabe por quê? Porque quando a gente divide um sonho com alguém, ele continua sendo seu e, portanto, o ama incondicionalmente. Quando dividimos cenas, projetos, planos, idéias, arte, gosto e sentimentos, passamos à admirá-los de uma forma colossalmente linda, perfeita e, principalmente, humana e verdadeira. Quando se confia, se ama (e vice versa). Quando se ama e, principalmente se faz planos, tudo se cristaliza em promessas, promessas divinas, promessas de amor, de futuro, de fantasia, de alegria, felicidade infinita!
Eu faço promessas a todo instante e, quando se tem uma chuva do lado, caindo incessantemente, ou uma chuva em cima, banhando seu corpo é um momento lindamente natural e propício a pedidos e promessas. Momento de ligação natural entre céu e terra. Momento em que o gasoso se liga ao sólido pelo líquido. Momento em que esse líquido, água divina caída dos céus, entra em contato com a terra, trazendo, querendo ou não, informações e bênçãos. Momento exato para ter certeza de que a chuva é o fio que conduz a terra ao céu. E que isso aconteça sempre, que mais chuvas caiam, banhando sentimentos, humanizando pessoas, gerando mais e mais cenas lindas, planos e sonhos, mas, principalmente, efetivando promessas e desejos pequenos, simples e humildes.
Termino esse texto com uma frase linda, proferida por padre Fábio de Melo e que fala de chuva, sonho e Minas Gerais:


"Minas de amor, mineiros...laços tão verdadeiros, vida onde o sonho é real, terra de nome plural, Gerais das montanhas. Lugar que a fé escolheu pra ficar e a chuva só fez fecundar, minérios, mistérios da cor."